Opinião

Se BLUE VALENTINE não aterrissou no seu feed da Netflix, volta lá pra procurar. Mas fica esperto, pq em português o título é pra lá de brega e pra lá de “sem sentido”: NAMORADOS PARA SEMPRE.  Se você tiver em mente que Cindy e Dean não são namorados para sempre, já tira da frente a breguice e entra no campo do filme sobre relações-amorosas-que-um-dia -naufragam. Desculpe se isso frustra suas expectativas quanto ao lado romântico do título.

O que temos aqui é realidade. A fronteira entre a ficção e o retrato real da intimidade do casal é tênue. A maneira de falar das dificuldades de lidar com as expectativas a respeito dos anos que estão por vir (afinal, ninguém se casa para se separar) é implacável, quase um tapa na cara. São muitas as diferenças se sobrepondo à doação e ao amor originais, à alegria da vida, que no princípio perambula só pelo campo do sentimento e não é capaz de invadir a seara da vida prática, das contas a pagar, da rotina.

Com uma câmera que nunca se afasta muito dos protagonistas, o que os traz ainda mais para perto, o trunfo é o casal Michelle Williams e Ryan Gosling. É como se eles se perguntassem o tempo todo: “onde é que foi parar aquele amor?”. Conseguem mostrar que há um limite humano, muitas vezes inexplicável, para o convívio; um sentimento de incompreensão da condição de amar (e aqui entra o sentimento “blue” do título original, que engloba inclusive o argumento de estar deprimido e não saber o porquê).