MASTER CLASS | Teatro

Cartaz do filme MASTER CLASS | Teatro
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Opinião

Quem gosta de uma linguagem de arte (cinema, no meu caso), tende a ser sensível a outras formas de expressão artística. Como é preciso ter foco, até pela enorme quantidade de oferta cultural que temos em São Paulo (ojalá!), deixo o teatro na prateleira de espera: apareceu uma brecha, preencho correndo. Mesmo porque, a arte muitas vezes fala da arte, daquela que não conhecemos. Torna-se uma ferramenta que vai muito além do entretenimento: informa, ensina, faz o vínculo com repertórios que não fazem parte do meu cotidiano – nem do meu saber. Não sou musical em teoria – não toco instrumento algum, não tenho conhecimento formal. Portanto, conhecer a obra e vida de Maria Callas passa pela linha superficial da cantora lírica grega, casada com Onassis, trocada por Jackie Kennedy. Adora a arte que fala da arte, com no documentário recente What Happened, Miss Simone – só pra citar o mais recente. A gente fica mais sensível, observa mais os modos de vida, enriquece, aprende e segue garimpando.

Tudo isso pra dizer que Master Class cumpre esse papel. Pra quem é craque no quisito música lírica, vai se deleitar. Pra quem não é, abra os ouvidos e o coração e aprecie. A montagem, anteriormente feita aqui no Brasil com Marília Pera no papel de Callas, consegue uma proeza: harmoniza drama e humor; transpira força e suavidade. É preciso ser sensível – e sensato – pra conseguir isso. Coisas do diretor diretor José Possi Neto. Sem muito conhecimento de causa, mas com um olhar de espectador que deixa as emoções chegarem, sem juízo de valor, apenas desfrutando, depois de alguns dias eu diria que vários fatores contribuíram pra uma conjunto tão equilibrado, cuidadoso e atual.

Eu sei que já virou clichê, mas gosto demais dele: menos é mais, no que diz respeito ao cenário. Só há um ambiente, neutro e coringa, mas nem por isso sem graça. Pelo contrário. A cenografia de fundo, aliada ao jogo de luzes é elegante e importante à altura de Maria Callas. Não falta nada. Outro ponto é a protagonista: Cristiane Tornoli tem uma presença de palco que chega a arrepiar. Traz pra perto a mulher forte e frágil, profissional e apaixonada, exigente e insegura. Se eu tivesse que defini-la em uma palavra, seria “generosidade”. Torloni compartilha a vida da cantora com o público e, de alguma maneira, saí do teatro pensando a mulher que foi Callas, nas suas várias facetas e momentos de vida. Julianne Daud, que eu já tinha visto no palco em New York, New York, brilha com seu sorriso e seu canto, assim como os outros atores que fazem o papel de alunos de Callas nos anos 1970. E, como não poderia faltar, o texto: que grata surpresa ter o humor mesclado ao drama, a entrega a atriz aos desafetos e desafios, a chance de se emocionar com o que é vivido no palco. Sim, porque não dá pra desgrudar o olho de lá, Cristiane Torloni hipnotiza a plateia e vai até o fim nessa sua entrega por Maria Callas.

Ainda bem que tem arte que fala da arte. Tantos filmes me trouxeram as trajetórias de pessoas interessantes, batalhadoras, dramáticas, artistas, criativas, que foram formadoras e opinião e seguem sendo referência. Master Class, como eram chamadas as aulas que Callas dava aos alunos mais talentosos, entra nessa prateleira. Uma contribuição para que não conhece o assunto, uma aula particular sobre liderança, a entrega plena de uma mulher. Dentro e fora do palco.

 

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