MANODROME

Opinião
Suzana Vidigal _ especial 73ª Berlinale
O título MANODROME, que concorre ao Urso de Ouro na Berlinale, vem da vontade do diretor John Trengove de retomar o tema da crise da masculinidade. Pressionados pelos padrões de comportamento, estéticos e financeiros, ser homem pressupõe criar uma couraça, ser provedor e não mostrar vulnerabilidade.
O que Trengove propõe é refletir sobre isso através de um personagem complexo (Jesse Eisenberg). Ralphie está desempregado, faz bico como Uber, puxa ferro obsessivamente e será pai em breve. Mostrar-se e sentir-se musculoso faz parte da construção deste cara que está sempre no limite, que dia sim, dia também tem seu momento de fúria. O diretor menciona sua infância problemática, mas também diz que isso não determina um adulto violento.
Diante da namorada grávida, que é a provedora neste momento, Ralph não consegue conversar. Sentimentos e frustrações represadas são verdadeiras panelas de pressão. A vazão pra tanta raiva acontece em uma comunidade masculina onde homens são acolhidos, tem casa, comida e roupa lavada, luxos e confortos, em troca de abrir mão da vida pregressa. Ali, estão protegidos das obrigações do mundo real.
MONODROME é o nome desta comunidade. É uma clara referência às chamadas incels, nome dado aos membros de grupos virtuais de homens que se consideram incapazes de encontrar parceiro romântico ou sexual (junção de involuntary celibates). São comunidades misóginas e essencialmente racistas, aparentemente de reabilitação e cura, que alimentam a violência. No filme, seu líder é o ator Adrien Brody.
Forte e violento, discute como a masculinidade levada às últimas consequências é algo insustentável e motor de relacionamentos tóxicos e sociedades violentas. “Ralphie é um homem que não sabe como navegar no mundo real”, diz Eisenberg sobre seu personagem. “Não sabe se conectar”, conclui — e não consegue entender que se mostrar vulnerável seria um caminho para essa compreensão. A cena final mostra isso — um conforto um tanto quando desconfortável.
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