BLONDE

Cartaz do filme BLONDE

Opinião

Mais uma vez esperei as reflexões rolarem no Cine Garimpo Encontros de outubro sobre BLONDE pra trazer aqui algumas observações que talvez possam gerar outras formas de ver o filme. Mas não só de ver, mas de sentir. BLONDE fez sua estreia mundial no Festival de Veneza e foi bastante criticado por ser irregular, por trazer “só” sofrimento, por deixar de lado outros aspectos importantes da vida da atriz.

Assisti uma vez e gostei; assisti duas, concordando com as críticas, mas ainda gostando do filme. Juntando minhas reflexões com as contribuições, olhares, opiniões e sensações das cinéfilas sobre Marilyn, compartilho aqui alguns pontos:

É preciso ter em mente que BLONDE não é uma cinebiografia e não tem compromisso com a verdade, embora esteja assim categorizado. Baseado no livro homônimo de Joyce Carol Oates, faz um recorte da vida da atriz ressaltando, sim, seus males, sofrimentos, traumas, abusos, abortos. Narrativas pressupõem escolhas, que podemos não gostar. Embora haja escolhas totalmente dispensáveis, me parece um recorte importante, absolutamente atual.

Dito isso e considerando que está longe de ser perfeito, é um filme pertinente porque fala de questões relevantes até hoje, através de uma atriz ícone da Era de Ouro dos estúdios de Hollywood, que sedimentou o padrão de beleza mundo afora, que ajudou a reforçar a sexualização da imagem que, por sua vez, reforçou ainda mais a misoginia e o machismo, normatizando o assédio e o abuso na indústria cinematográfica. E em tantos outros campos da vida, não é mesmo? Isso há 70 anos, mas totalmente na pauta do dia. Olhemos para a força que tem a construção de uma imagem e de um padrão de comportamento. É só observar o trabalho que estamos tendo pra desconstruir tudo isso e o tempo que isso vai demorar pra notar a importância deste conteúdo.

É útil porque fala de saúde mental, ajudando a desmistificar o glamour da fama. Nesta nossa era da imagem, de idolatria nas redes sociais e de supostas “vidas e corpos perfeitos”, trazer esta realidade nos ajuda a falar disso ainda mais. Esportistas, celebridades, artistas que estão dando um tempo pra cuidar da saúde mental que o digam.

É útil porque é ferramenta de reflexão, que nos dá a chance de falar sobre isso através de uma narrativa desafiadora sim, mas de linda fotografia, com Ana de Armas brilhando e dizendo fortemente a que veio, mergulhando sem restrições nesta persona icônica, que Andy Warhol imortalizou em sua pop art, nos lembrando o quanto a imagem rapidamente se torna um produto, repetida à exaustão, sem humanidade.

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