LUTA DE CLASSES – HIGHEST 2 LOWEST

Opinião
Um dilema moral, uma Nova York fotografada lindamente e uma trilha sonora que mais parece um. Assim é LUTA DE CLASSES, novo filme de Spike Lee, exibido em Cannes fora de competição, agora na AppleTV.
Dilema moral adaptado à atualidade, é uma releitura de High and Low (Céu e Inferno) que Akira Kurosawa filmou em 1963. Traz pro presente a questão do dinheiro que tudo compra, do fato de tudo ter um preço. Denzel Washington David King, um empresário do ramo musical. Está no momento profissional de fazer um grande investimento, mas as negociações precisam ser adiadas diante de um sequestro. Por um erro do sequestrador, o Paul, motorista e amigo de King da vida toda, é envolvido.
Enquanto King é o magnata da indústria, Paul seguiu outro caminho depois de terem sido criado juntos. Agora, seus filhos são melhores amigos. A relação de King e Paul diante do ocorrido vai trazer à tona a pergunta que não quer calar: tudo tem mesmo um preço ou temos espaço nesta vida pra tomar decisões que não colocam na mesa ganhos financeiros?
“Nem tudo na vida é uma decisão de negócio”, disse Jeffrey Wright em Cannes. O dilema moral de King coloca na balança o peso dos valores — e aqui, literalmente: valor como dinheiro, valor como princípios.
Tudo isso pra dizer que em se tratando de um filme de Spike Lee, tudo dinâmico. As cenas de ação são tão importantes quanto os diálogos, colocados num patamar fundamental para pensar o quanto o pertencimento à classe alta ou baixo, ao ter ou não dinheiro e influência, importa. O título original, HIGHEST 2 LOWEST, que o diga. É fácil estar no alto e cair. A luta de classes da tradução do título vai nessa linha — embora “luta” não seja exatamente o que o filme quer trazer. Seria muito mais um viés do poder do dinheiro, levando em conta aqui a influência das redes sociais, da tecnologia nas relações sociais de hoje.
LUTA DE CLASSES é uma homenagem a Nova York, à musica e ao cinema. Eletrizante e questionador, como Spike tem que ser.
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