LIVRO – A Ilha Sob o Mar

Cartaz do filme LIVRO – A Ilha Sob o Mar
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Opinião

Logo nas primeiras cenas de A Cor Púrpura, sabemos que uma criança é arrancada dos braços da mãe ao nascer. Junto com a herança afro-americana dos Estados Unidos, essa cena me fez lembrar a história de Zarité, mulher, negra, pobre; vida de privação, vida serviçal, vida de castigo e, neste caso, vida escrava. É essa a protagonista do livro A Ilha Sob o Mar, Isabel Allende (Bertrand Brasil, 476 páginas).

Aqui estamos no ano de 1770. Zarité é escrava, na ilha caribenha de São Domingos ou Espanhola – que futuramente se dividiria entre Haiti e República Dominicana. Sua história passa pela escravidão nas fazendas de cana, pelos favores sexuais aos senhores, mas também pela privação de ser mãe. Sua história também é recheada de rupturas, de laços familiares complexos e sofridos, através dos quais ficamos sabendo um pouco da história do que viria a ser o miserável Haiti. Ficamos sabendo de onde vem tamanha corrupção, descaso com o público e o social. Não é de hoje e as raízes não deixam mentir.

Além da interessante história, o panorama histórico é marcante e explica parte da maneira de pensar de um povo e seus dirigentes, além de explicar, em poucas e suficientes palavras, por que as coisas estão como estão. Li o livro coincidentemente na época do terremoto na ilha. A falta de infra-estrutura básica e de condições essenciais de vida para a população têm sua origem lá atrás. É plantar e colher, lógico assim.

Entrevistada hoje na FLIP, Isabel Allende diz, humorada, que não dá para ser best seller durante 30 anos, com 18 livros, sem ter alguma qualidade. Concordo. Goste ou não do seu estilo, A Ilha Sob o Mar é uma leitura agradável e leva-se, de quebra, o panorama interessante de uma ilha que pouco faz parte do nosso imaginário, mas que também sofre as consequências da colonizaão de exploração.

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