LIVRE – Wild

Cartaz do filme LIVRE – Wild

Opinião

Literalmente, Wild deveria ter sido traduzido como Selvagem. Assim como o filme Into the Wild, que foi chamado em português Na Natureza Selvagem. São histórias diferentes, mas me lembrei dele porque o termo “wild” se refere ao mesmo objeto nos dois casos: o mergulho profundo e desconhecido na natureza, na tentativa de encontrar o sentido da sua própria existência. O termo “livre” faz sentido se pensamos que a personagem da atriz Reese Witherspoon (também em Johnny & June, Amor Bandido) busca se livrar das amarras, dos vícios, das encrencas em que se meteu, para então descobrir o que quer realmente da vida e ser livre para escolher. Mas confesso que “wild” me remete mais à busca por seu estado in natura, por sua essência, pelo autoconhecimento.

Esta produção é baseada no livro da escritora Cheryl Strayed, que se chama Wild: From Lost to Found on the Pacific Crest Trail. Ela escreve sobre experiência de cruzar a costa oeste dos Estados Unidos a pé pela trilha chamada PCT, que vai da fronteira com o México até a fronteira com o Canadá, aos 22 anos. O livro é transformado em filme pelo olhar habilidoso e sensível do canadense Jean-Marc Vallée, também responsável por Clube de Compras Dallas, C.R.A.Z.Y e A Jovem Rainha Vitória. E faz bem feito. O que poderia ser um tolo relato de mais uma trilha-a-procura-de-si-mesmo, estilo filme esotérico, pondera drama e humor, constrói e desconstrói o personagem o tempo todo, intercalando cenas de Cheryl na trilha, outras de sua infância, de suas perdas e escolhas que ela fez durante a vida. Quem planta, colhe – é basicamente isso.

Tem um clima de “tábua de salvação”, mas não de auto-piedade. Com um casamento fracassado, envolvimento com drogas e falta de objetivo, ela percorre 1770 quilômetros do caminho durante três meses, sem saber no que a experiência vai dar. No fundo, sabe que será transformadora. E é. Tem um lado contemplativo muito sedutor, ainda mais para quem curte o silêncio e as caminhadas. A escolha de Cheryl por essa trilha foi radical, uma demonstração de coragem quando a última esperança já escorria pelas mãos – ponto tocante e sensível, que com certeza vai fazer muita gente se identificar. Talvez eu escolhesse uma trilha um pouco mais palatável – Santiago de Compostela, quem sabe – mas a ideia do silêncio e de um passo após o outro já me deixou com vontade de caminhar.

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