JOUER AVEC LE FEU – THE QUIET SON
Opinião
“Um bom ponto de partida para um filme é o medo”, diz a diretora Delphine Coulin na coletiva de imprensa no Festival de Veneza. “Eu tenho dois: medo de não reconhecer minha irmã, por exemplo, se seus valores mudarem totalmente, e medo de não ter mais a democracia no meu país”. A história de JOUER AVEC LE FEU reúne essas duas situações — e o faz com um filme que começa numa camada íntima e familiar, e chega numa problemática universal de maneira muito comovente.
O título, numa tradução literal, significa “brincar com o fogo”. Mas, em inglês, o título é the quiet son. Isso porque Pierre (Vincent Lindon) é viúvo e mora com os dois filhos jovens. Um deles está indo pra universidade; o outro, já na casa dos 20, não tem profissão e se junta a um grupo de extrema direita. O desconforto de Pierre é evidente e ele já não se reconhece o filho que abraça esses valores que estão ancorados na violência, na xenofobia, na intolerância, no preconceito, na opressão religiosa, sexual, política. Tudo isso pra dizer que este filho é aquele que silencia, que se não se comunica mais com a família e se deixa levar pelos ideias extremistas.
JOUER AVEC LE FEU vai num crescente. O que começa familiar, ganha uma dimensão maior pra finalizar, numa virada do roteiro inesperada. Discutir a paternidade é ponto fundamental neste filme, que tem duas irmãs cineastas dirigindo três homens. “Mostra um pai afetuoso e responsável pelos filhos”, diz Vincent Lindon, que atua lindamente na pele de Pierre, um funcionário da SNCF, estatal francesa de transporte ferroviário. “Mas sua responsabilidade vai até um limite, porque os filhos são adultos e fazem as suas escolhas.” Esta é a chave do filme, afinal exercer a parentalidade não é algo incondicional.
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