INQUIETOS – Restless
Opinião
Annabel é uma jovem que ama os animais, a natureza e se entitula “naturalista”. Estuda as espécies, seu nome científico, sua expectativa de vida. Mas ela própria já tem expectativa de vida drasticamente diminuída pelo câncer que vai matá-la em alguns meses. Até por isso a natureza parece fazer sentido, na ordem em que os elementos são colocados, na importância que nós, seres humanos, temos nesse universo. Madura, consciente e tranquila à medida do possível, Annabel (Mia Wasikowska, também em Alice no País das Maravilhas, Minhas Mães e Meu Pai) lida com a doença de forma adulta, embora isso não seja natural da idade.
Enoch (Henry Hooper) é um rapaz endurecido pela vida, que perdeu os pais bruscamente, tem o hábito de ir aos velórios de pessoas desconhecidas, fala com um fantasma kamikase, não vai à escola, não tem amigos e mora com uma tia com quem é rude e seco. Em um desses funerais, encontra Annabel, que está justamente se despedindo de um paciente que morreu de câncer. É nesse ambiente de luto, que o diretor Gus Van Sant (também de Milk – A Voz da Igualdade) resgata a aventura e a entrega próprias da juventude, equilibrando a balança desse casal com tantas questões internas para resolver.
O filme deve ser sentido em toda a sua inquietude e na realidade emociona pela franqueza com que são tratadas a solidão típica dessa fase adolescente e a sensação de pertencer ao mundo sem ainda ter lugar marcado. Sem ser piegas, reveste a relação dos dois de cumplicidade, magia, encenações, histórias, fantasias que os tiram da realidade, transportando-os para um mundo em que vale a pena se aventurar, principalmente quando não há nada que se possa fazer para mudá-lo. Algumas cenas fazem esse contraponto lindamente, como aquela em que o médico conversa com a irmã de Annabel sobre o prognóstico da doença e a própria paciente sai de mãos dadas com Enoch saltitando pelo corredor do hospital, dando a entender que não tem tempo a perder e que a vida está passando lá fora.
Claro que um luto cura o outro, uma morte cura outra ferida e assim sucessivamente na natureza das coisas e das relações – muitas vezes funciona assim, os trancos da vida servem para nos tirar da inércia, da paralisia causada pelo medo, pela perda. Não é um dramalhão, não – se essa é a sua pergunta. É poético e tem tom de esperança. Além do mais, termina com as “palavras” de Enoch – simplesmente geniais.
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