IDA

Opinião
Demorou, mas valeu a pena esperar para ver Ida. Indicado ao Globo de Ouro e Oscar de melhor filme, já angariou muitos prêmios mundo afora, inclusive melhor filme na premiação britânica BAFTA. E todo esse holofote é justificado. A começar pelo enredo em si: a noviça Anna vive num convento na Polônia do pós-guerra dos anos 1960. Nas vésperas de fazer seus votos e tornar-se freira, vai visitar uma tia que parece ser a única parente viva. Toda a família morreu na guerra. Para sua surpresa, sua tia Wanda revela um segredo que muda tudo e as duas seguem juntas para saber do paradeiro dos corpos de seus pais. O resto você descobre por conta própria (aliás, cuidado com alguns textos estraga-prazer que estão por aí).
Todo em branco e preto, tem algo que lembra a melancolia e a crueldade de A Fita Branca (Palma de Ouro em Cannes e melhor filme estrangeiro no Globo de Ouro). Em Ida, o sentimento mais presente é o da desesperança. Em relação à vida, ao futuro e ao passado. É como se a vida passasse em branco, nem mesmo as grandes decisões têm emoção ou são recheadas de sentimentos. Simplesmente acontecem. Indiferença. A fotografia contribui para isso – aliás, concorre ao Oscar nessa categoria e é minha escolha. Triste, sombria, sem cor, nevada e gelada, a atmosfera do inverno polonês comunista é devastadora e nada inspiradora. Personagens e cenários combinam. E conversam.
Nebraska, bastante comentado no ano passado, também é melancólico e também é em branco e preto. Sem cor é como se a monotonia reinasse, mas principalmente como se reinasse uma nostalgia de tempos não conhecidos. Aquela tristeza profunda, a ausência de alegria de viver. Ida é um filme simples, de poucas palavras, mas de profundidade que vai incomodar alguns. Se não está disposto enfrentar isso, outras opções não faltam. Mas se eu fosse você, assistiria.
Comentários