Opinião

Diferente do outro filme de Laurent Cantet, Entre os Muros da Escola, Foxfire não é baseado em fatos reais. Mas assim como esse seu filme anterior, premiado com a Palma de Ouro em Cannes, Foxfire parece ser real. A linguagem franca, o olhar sincero das meninas protagonistas (e também atrizes iniciantes ou amadoras) retira com maestria qualquer réstia de pretensão. Fica na tela a simplicidade das adolescentes que lutam para serem ouvidas e respeitadas. Nem que para isso seja preciso ir às últimas consequências.

E aqui é que o olhar cuidadoso e minucioso do diretor faz toda a diferença. Laurent Cantet retrata a escolha desse grupo de adolescentes com a naturalidade. Não são nem vítimas, nem heroínas. São garotas que se cansam sofrer assédio e maus tratos dos meninos naqueles anos 1950 em Nova York, encontram uma líder que banca toda a história e formam sua própria gangue. E é gangue mesmo, no sentido positivo, quando pensamos em um grupo que tem um objetivo comum, e no negativo, quando agem de forma inconsequente e perigosa.

Legs (Raven Adamson) lidera o grupo com seu jeito destemido. Organiza as ações do grupo para conseguir dinheiro, enfrenta as autoridades, é corajosa e determinada. Reúne meninas de perfis diversos, consegue transformá-las em um grupo unido. Através da narrativa da sua grande e fiel amiga Maddy, ficamos sabendo dos bastidores dessa convivência intensa e improvável das meninas. Cantet (também em 7 Dias em Havana, A Agenda) consegue trazer à tona as questões mais ardentes da adolescência e passagem para a vida adulta, suas dúvidas e questões mais ambíguas como a necessidade de transgressão, a incapacidade de prever as consequências, as euforias que vêm junto com a sensação de serem onipotentes. Tem algo a ver com o tema de Bling Ring – A Gangue de Hollywood. Muda a época, mas a fase da vida pede sempre a mesma coisa: ultrapassar os limites. E aqui a gente tem muito material para discutir essa fase tão complexa e seus ritos de passagem.