FILHOS DO SILÊNCIO – Children of a Lesser God

Cartaz do filme FILHOS DO SILÊNCIO – Children of a Lesser God

Opinião

Será possível encontrar um lugar comum de comunicação e convívio entre uma pessoa  surda e muda e alguém que escuta e fala normalmente que não seja no total silêncio, nem no mundo das palavras e do barulho? Interessante essa pergunta, que se aplica a outras dificuldades de comunicação, tão comuns entre os que não tem qualquer problema fisiológico de audição ou fala. O “comunicar-se” aqui vai bem mais além da simples troca de palavras. Entra na seara da interação, do querer ouvir e compreender, do querer ceder e compartilhar.

Pensando nisso, vejo como Filhos do Silêncio é absolutamente atual em dois aspectos básicos. O primeiro diz respeito ao enredo em si, inserido no contexto da educação. Sarah Norman (Marlee Matlin, vencedora do Oscar e Globo de Ouro pelo papel), é surda e muda, frequentou uma escola especial, mas se recusa a aprender a falar. Só se comunica pela linguagem dos sinais. James Leeds (William Hurt, também em Late Bloomers –  O Amor não tem Fim, Hobin Hood, Syriana – A Indústria do Petróleo) é professor especializado em deficientes auditivos e inova na sua maneira afetiva e sensorial de ensinar, justamente na escola que Sarah estudou. Os dois se conhecem e Leeds passa a questionar a escolha de Sarah de viver no silêncio e de ser recusar a entrar no mundo dos “falantes”. Portanto, pensando no nosso mundo de hoje, mais preocupado com a inserção dos deficientes nas escolas e na sociedade como um todo, o filme é interessante e muito delicado.

Atual também no que diz respeito ao mundo tecnológico em que vivemos e do qual nos gabamos das inúmeras maneiras de se comunicar, de encontrar as pessoas, de se relacionar virtualmente. O excesso de meios pode também significar a escassez de afinidades, contatos reais, desenvolvimento de outros sentidos como tato, visão, olfato, paladar. O mundo virtual também é surdo e mudo, se for usado como único recurso para se comunicar. É silencioso, solitário. Sarah vive no silêncio por opção e medo de relacionar-se realmente. Isso não pode ser transportado para o outro extremo que vivemos hoje, o do excesso de possibilidades? O virtual de hoje também não nos isola, por assim dizer?

Fiquei tocada novamente pelo filme. Claro que o outro aspecto que chama a atenção é o da aceitação e do amor que nasce entre Sarah e James. Nem citei este terceiro, porque a aceitação do outro é sempre tema do cotidiano e meta a se seguir. Lembrei-me também do italiano Vermelho como o Céu, que fala da educação especial de cegos e do fundamental desenvolvimento de outros sentidos. São questões importantes. Nunca é demais parar para pensar.

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