EU, DANIEL BLAKE – I, Daniel Blake

Cartaz do filme EU, DANIEL BLAKE – I, Daniel Blake

Opinião

Se fosse pra resumir em uma palavra, ela seria solidariedade. Se pudesse colocar mais uma, seria dignidade. Mais uma? Crueldade. Pois é, aí é que está a riqueza do filme de Ken Loach: traz opostos na sua mais genuína forma. A solidariedade bem nua, crua, genuína, sem moeda de troca; simplesmente acontece, com tem que ser com as pessoas de bem. A dignidade é mantida, mesmo que o universo conspire contra. E a crueldade… ahh, a crueldade vem arquitetada, montada de forma a dificultar, judiar, humilhar e nutrir uma sociedade mais injusta. Em uma semana em que a Finlândia anunciou que vai pagar um salário mínimo de 560 euros a desempregados, sem que eles tenham que provar que estão procurando emprego, este filme, vencedor da Palma de Ouro em Cannes, cai como uma luva.

Daniel Blake é um marcineiro, que tem um problema no coração, ainda não pode voltar a trabalhar e recorre ao sistema de previdência social para receber seu seguro desemprego. Poderia ser no Brasil – dá até vontade de rir (aliás, este é um dos bônus do filme, que coloca como protagonista um ator de standup comedy – capaz de rir da própria trajédia). Rir pra não chorar: ele fica plantado no telefone tentando ser atendido, preencher os pré-requisitos, conseguir o benefício, ter o mínimo de atenção e ser tratado com o mínimo de respeito. Até que descobre que tem que fazer tudo isso online. Como, se não sabe com o esse mundo virtual funciona? Soa familiar?

As dificuldades são inúmeras e Daniel não desiste. Segue digno. Lutando. Conhece uma moça em situação crítica, com dois filhos pra cuidar, sem dinheiro, sem trabalho, sem esperança. Aqui entra a solidariedade. Genuinamente, porque assim é que deveria ser sempre.

Ken Loach, também diretor de Rota Irlandesa, A Parte dos Anjos, À Procura de Eric, consegue ser preciso: mostra o desvio de conduta da nossa sociedade que deveria acolher, ajudar o cidadão a viver e não a passar a vida correndo atrás do rabo. Ao mesmo tempo, consegue construir um Daniel e uma Katie íntegros, esperançosos, dignos e orgulhosos de quem são. Apesar dos pesares. Triste, claro, mas fica uma mensagem de esperança. Os finlandeses que o digam.

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