ELEFANTE BRANCO – Elefante Blanco

Cartaz do filme ELEFANTE BRANCO – Elefante Blanco

Opinião

Assim como no desconcertante Abutres, em que o diretor Pablo Trapero discute a importante questão da máfia das seguradoras e indenizações, criando uma sistema de corrupção e violência que afeta seriamente a sociedade civil, em Elefante Branco questiona-se a ocupação do espaço da cidade grande e suas relações um tanto quanto complexas. Lança a questão e deixa no ar a grande interrogação sobre o papel do Estado e da Igreja na manutenção da paz e da ordem.

Em Leonera, Trapero também fala de questões sobre a responsabilidade do Estado, julgamentos, vidas dependendo de um sistema que está, permanentemente, sob questionamento. Não tem nada a ver com a questão humana, familiar e afetiva de Família Rodante. O que só enriquece o repertório do diretor, na sua capacidade de permear com sensibilidade por questões que habitam as grandes cidades e a sociedade contemporânea.

Elefante Branco é o edifício construído nos anos 1920 em Buenos Aires. O que deveria ter sido o maior hospital da América Latina fica inacabado e transforma-se em um esqueleto que abriga marginais, favorece a construção de uma favela ao redor, que vive sem auxílio ou planejamento por parte do Estados. Instala-se uma comunidade caótica, sob a lei dos traficantes e tutela assistencialista da Igreja, representada pelos padres Julián (Ricardo Darín, também em O Conto Chinês, Abutres, O Segredo dos seus Olhos, O Filho da Noiva) e Nicolás (Jérémie Renier, também em O Garoto da Bicicleta, Horas de Verão, A Criança, Potiche – Esposa Troféu, O Silêncio de Lorna).

Julián vive – ou sobrevive – nesse conjunto habitacional inacabado e precário, tentando suprir a comunidade com esperança, fé e assitencialismo, com ajuda de Luciana (Martina Gusmán (também em Abutres, Leonera), a assistente social que trabalha com poucas ferramentas do Estado, lutando para construir casas para abrigar os moradores da favela. Junta-se ao grupo o padre Nicolás, belga que acaba de ter uma traumática experiência em comunidade no Amazonas. Ao lado do Estado falido e indiferente, Julián trabalha tentando se adequar ao status quo, remediando a situação instalada de caos, drogas, violência, falta de dinheiro, omissão do alto clero. Nicolás trabalha com a necessidade da mudança, com a quebra de paradigmas, com a indignação.

O que se vê é aquela situação de orfandade – uma comunidade inteira sem o mínimo de infraestrutura, cuidado, importância. Descaso das grandes cidades latino-americanas. A responsabilidade como uma batata quente, como um elefante branco. Ninguém sabe o que fazer com ela. Trapero não é indiferente. É dramático.

 

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