DEUS DA CARNIFICINA – Carnage
Opinião
Prepare-se, porque desta vez Polanski entra na sua casa. Filma num cenário único em Paris, fingindo ser Nova York, já que não pode pisar em solo americano por causa do processo de abuso sexual contra ele naquele país. Mas isso é realmente o de menos, porque poderia ser qualquer lugar do mundo, já que o filme trata de questões absolutamente comuns a qualquer casal, chiliques comuns a qualquer ser humano, com seus exageros e ironias para apimentar ainda mais a conversa do quarteto.
E que quarteto! Estamos falando de Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz e John C. Reilly, dois casais que se conhecem em uma ocasião nada afável: precisam tirar a limpo uma briga entre os filhos adolescentes. O filho de Penelope (Judie Foster, também em Um Novo Despertar) e Michael (John C. Reily, também em Cyrus, Magnólia) apanha numa briga entre garotos da escola e o casal Nancy (Kate Winslet, também em Contágio, Titanic, Foi Apenas um Sonho, Pecados Íntimos, O Leitor) e Alan (também em Bastardos Inglórios) vai ao apartamento deles se desculpar. Mas a conversa envereda por questões pessoais de cada um, por lavagem de roupa suja entre os casais. O que era para ser uma simples e cordial visita, termina sendo uma longa, engraçada, dramática, sarcástica tarde desses desconhecidos que se revelam, nas suas mais amargas mazelas e defeitos, até para eles mesmos.
Pode parecer um pouco monótono, afinal o filme se passa basicamente dentro da sala do apartamento e trata o tempo todo de um mesmo assunto. Mas o filme é mais curto e Polanski cuidou da adaptação dessa peça de teatro de forma muito especial. No cinema, temos a impressão de estarmos realmente no teatro. O que vale é a postura de um perante o outro, perante si próprio e o espectador. Isso mesmo, estamos avaliando o tempo todo a postura daquelas pessoas e vestindo, mais ou menos, a carapuça em diversas situações. Por isso disse que o diretor invade a sua sala. Entra mesmo, nos sentimos ali perto, testemunhas e juízes da situação pra lá de absurda, mas pra lá de humana e comum! Assista, depois me conte se não se vê na mesma situação de Nancy, cujo marido não para de atender o celular… Diferente de tudo que vi de Polanski, como os ótimos O Escritor Fantasma, O Pianista e ainda o antigo Tess – Uma Lição de Vida, o diretor acerta no tom da provocação, da crítica à hipocrisia e ao que chamamos de “bons costumes”.
Comentários