DE CANÇÃO EM CANÇÃO | song to song

Opinião
Demorei pra digerir a nova experiência de Malick na tela. É dele também A Árvore da Vida, que levou a Palma de Ouro, mas gerou estranheza, comentários do tipo esse-cara-viaja-demais. De Canção em Canção é isso, uma experiência. Tem que se jogar, embarcar na viagem do diretor, mas sem querer sentar na janela. Apenas vá e aproveite. Se for pra assistir um filme linear, previsível, com começo-meio-fim, estabilidade de narrativa, de câmera e de personagens, melhor procurar outro. Nada disso você encontra aqui. Seu eu fosse você, pagaria pela viagem – sair da caixa é sempre, no mínimo, interessante.
A começar pelo elenco: Ryan Gosling, Rooney Mara, Michael Fassbender, Natalie Portman, Cate Blanchett. De primeira, sabe fazer a química acontecer. Depois tem a narrativa em si: uma história de amor, que vira desamor com um trio, que se amplia pra mais uma amante e mais outra, que vira uma confusão à la mineira: Amanda ama BV, que ama Faye, que amava Cock, que tenta esquecer Faye com Rhonda, que não aguenta o tranco e resolve resolver tudo à sua maneira. Aos sussurros, histórias entrelaçadas e picotadas, uma câmera que se mexe loucamente, assim como o emocional dos personagens oscila, não estabiliza, não comunica. Apenas sente, transborda.
É preciso entrar no filme, embarcar na trilha, despir-se dos preconceitos e suposições, deixar de torcer pelos personagens. Tem quem diga que os filmes do Malick não fazem sentido. Não fazem mesmo. Nem tudo é preciso estar coberto pelo manto da razão e da estabilidade, cumprir expectativas. Ainda mais quando se trata de uma história de amor. Não tem razão que dê conta de explicar. Gosto, bastante. O não-sentido faz todo sentido.
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