CUSTÓDIA – Jusqu’à la Garde
Opinião
É logo na primeira cena, durante a argumentação dos advogados do pai e da mãe de Julien, que o clima tenso se instala. E não vai embora jamais. Custódia é nervoso, triste e bem real – na medida dos divórcios que terminam na disputa insana e cruel pela guarda dos filhos.
Aviso de antemão: desperta medo e insegurança – mesmo em quem não vive (ou viveu) esta situação. Fico imaginando quem tem essa lembrança. Revistar talvez não seja bom. Traz a sensação parecida com a que Sem Amor produz em relação aos divórcios violentos – enquanto o filme russo fala da total indiferença dos pais em relação ao filho, este francês mostra a violência psicológica e física. Tudo falta de amor, egoísmo. Crueldade.
A guarda de Julien é decidida pela justiça, já que pai e mãe não se entendem. Ela alega que ele é violento; ele diz que mudou, que não quer ser privado de ver o filho. O próprio Julien é reticente, depõe contra o pai. Mas as palavras são poderosas – e traiçoeiras -, de modo que vamos conhecendo a relação da família durante o filme. Quando achamos que a narrativa está construída, surge a dúvida – assim como são as relações ambíguas e conflituosas. Esse jogo que faz o diretor Xavier Legrand, também roteirista, é genial. Vai no subliminar, tirando as conclusões óbvias da frente, deixando bem claro o quão complexos são os relacionamentos.
Custódia faz pensar no complicado que é dividir afetos, controlar os humores e instintos incontroláveis, e colocar tudo isso na caixa da família que já não pode mais continuar sob o mesmo teto. Profundo – e aterrorizante de tão verdadeiro.
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