CORAÇÕES SUJOS
Opinião
Corações sujos eram aqueles japoneses que acreditavam que o Japão tinha perdido a Segunda Guerra. Ao acreditar (na verdade), estavam traindo a pátria, os comandantes da imigração japonesa no Brasil, e, por consequência, o imperador – o que já seria assinar uma sentença de morte. Assim escreveu Fernando Morais em seu livro homônimo (2000), para contar a interessante história do núcleo japonês que se estabeleceu em São Paulo naquela época, formando a imensa e integrada colônia que temos hoje.
Li o livro já há algum tempo e realmente não viria a saber do ocorrido se não fosse por essa vasta pesquisa do escritor. Gosto muito do texto de Fernando Morais (também de Chatô, O Rei do Brasil, Olga, O Mago, comentado aqui no blog), principalmente no quesito construção dos personagens. E é justamente aqui que o filme Corações Sujos, de Vicente Amorim (também de Um Homem Bom), peca. Rasos e sem contexto, os personagens japoneses centrados na figura do fotógrafo, que é escolhido para matar aqueles que “traem” a pátria por acreditarem que o Japão não é mais um guerreiro vencedor, perdem a sua força interpretativa e a narrativa fica desinteressante. De marido afetuoso e profissional gentil, passa a assassino cruel e implacável. Num estalo.
O que não quer dizer que esteticamente não seja um filme bonito. É sim, inclusive o visual conta muito do que aconteceu com essa colônia. Muito embora não precisasse ter essa áurea tão arrumada, impecável, com tudo no devido lugar. Não tem cara de verdade, embora a gente saiba que o livro de Morais seja documental. Mas é um registro cinematográfico, que ilustra essa passagem história tão pouco conhecida. E inusitada, diga-se de passagem.
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