COMO NOSSOS PAIS

Cartaz do filme COMO NOSSOS PAIS

Opinião

Maria Ribeiro encarna a própria mulher-polvo de que nós, mulheres, tanto falamos. Pra não ser nem óbvia, nem repetitiva, além de acumular as funções mãe, mulher, motorista, professora, organizadora de eventos-mil, dona de casa, gerente-geral de humores, profissional, entre outras funções, essa mulher guarda, lá no fundo, a complexa tarefa de encontrar um espaço para si. Ou de permitir que algum estopim da vida cotidiana exploda a bolha que vai se formando dentro dela.

Rosa explode quando sabe (e não é spoiler, está no trailer) que não é filha biológica do seu pai. A bolha estoura e desabam todas as insatisfações e questionamentos guardados e fechados a sete chaves. Aliás, às vezes a gente até joga a chave fora, temendo o barulho que abri-la irá produzir.

E produz. Rosa se abre pra questionar o casamento, a profissão, a não-profissão tão desejada, a não-realização do sonho, o relacionamento complexo com sua mãe, o fato de ter de cuidar do pai atabalhoado, de ter que lidar com as filhas pré-adolescentes, com o desejo por outro homem, com a vontade de transgredir – nem que seja um pouco. O mundo despenca, pra que haja uma possibilidade de reconstrução, num outro lugar. Além da dramaturgia que envolve essa descortinar, Laís consegue trazer isso pra tela com a honestidade de quem sente o que filmou. De quem compartilha aqueles medos e anseios. É isso, tem áurea genuína – e é aí que o filme toca. Porque é comum a todos nós.

Rosa é a mulher em transformação e muita mulher vai dizer que se sente representada. Mesmo com todas as temáticas envolvidas no filme, pensando nele todos esses dias e vivendo momentos de mulher-polvo em plena transformação, digo que, essencialmente, Como Nossos Pais não é só sobre essa mulher que abraça tudo e esquece de se abraçar e dizer o quanto se ama, mas sobre a mulher que é tão, tão camaleoa, que é capaz de se sacudir, sair do lugar da dor e da dúvida, se rever e se reciclar. Muda de cor, se readapta, se recoloca, se reinventa, se “realegra”, se “re-ama”. Palavras inventadas, para pessoas que podem reescrever tudo. Essa é Rosa, Maria Ribeiro com toda a sua espontaneidade, fúria e irreverência.

 

Como Nossos Pais passou pelo Festival de Berlim e levou 6 Kikitos em Gramado: melhor filme; Laís Bodanzky levou melhor direção, Maria Ribeiro melhor atriz, Clarisse Abujamra como coadjuvante e Paulo Vilhena como ator, além de montagem para Rodrigo Menecucci.

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