COCO ANTES DE CHANEL – Coco Avant Chanel
Opinião
O título é preciso: trata-se da história de Coco, e não de Chanel (1883-1971). Trata-se da história da menina pobre, criada em um orfanato junto com a irmã, frustrada com o desaparecimento sumário do pai. Da moça teimosa, com poucos dotes para a música e dança, que frequentou os cabarés e cafés franceses do começo do século e que ganhou a vida costurando bainhas. Da garota que teve a oportunidade de conhecer pessoas influentes, entre elas o rico criador de cavalos, Étienne Balsan, com quem viveu durante um tempo.
Aos poucos ela se torna a mulher que quer trabalhar, que tem estilo próprio, que estranha as mulheres da sociedade, para quem a elegância é sinônimo de exagero. Que faz a própria roupa, que se veste “como homem”, que faz belos chapéus, que é autêntica. Que segue seus instintos, rema contra a maré dos babados, flores, adornos e espartilhos. Que adota linhas retas, elegantes e confortáveis. Que conhece um rico senhor inglês, por quem se apaixona, mas que casa com outra, por dinheiro. Até aqui, quando o galanteador Boy financia o seu ateliê de chapéus em Paris, o filme conta a história.
A partir do ponto em que Coco vira Chanel, conquista uma clientela, cresce, lança sua coleção, tudo é mostrado muito rapidamente. Não sabemos muito como isso se dá, como fica sua cabeça depois desse desfile, suas lembranças. Sabe-se que nunca se casou de fato, que trabalhou até morrer e que teve muitos amantes, inclusive suspeitos, na França colaboracionista. Mas isso não está no filme – quando acontece, ela já era Chanel.
Coco Antes de Chanel é um registro bonito dos costumes e do figurino de uma época, um romance sem final feliz. Não causa, nem de longe, a comoção de Piaf – Um Hino ao Amor, por exemplo, também francesa, também diva, também tragicamente marcada pelas tristes trajetórias da vida. Aliás, eu diria que não emociona, mas encanta por sua beleza plástica.