CHRISTY
Opinião
Muitas vezes é preciso legenda pra entender o dizem os irmãos irlandeses e seus amigos de Cork, norte da Irlanda. Mas não é preciso legenda pra entender a desconexão e o afastamento entre eles, nem mesmo entre o passado e o futuro. Sem optar por soluções fáceis para, quem sabe, encaixar a trajetória dos personagens de CHRISTY no padrão dramático já relacionado com o ambiente acinzentado irlandês, o diretor e roteirista Brendan Canty joga luz na história, muitas vezes desmontando a expectativa que já temos de encontrar a tragédia plantada nessa dura realidade.
Realidade social de Christy, que tem 17 anos, acaba de ser expulso se um lar adotivo e não lhe resta outra opção que morar provisoriamente com seu meio-irmão Shane, que é casado e tem uma filhinha. Calado e retraído, faz amigos mas, ao mesmo tempo, tem suas recaídas. A construção do ambiente familiar é fundamental pra dar ao filme este verniz que representa possibilidades, sem ser romântico a ponto de omitir as dificuldades.
Aliás, o filme está todo pautado por esse equilíbrio. É possível reconstruir, não só o relacionamento entre os irmãos, mas também pensar numa profissão, fazer amigos, conversar sobre o passado, se reconciliar consigo mesmo? CHRISTY venceu o grande prêmio da seção Generation 14plus do Festival de Berlim e é mesmo um coming of age realista, sem ser aquela paulada; otimista, sem ser ingênuo ou romântico.

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