CARAMELO – Sukkar Banat
Opinião
**Definitivamente um filme sobre mulheres, para mulheres, no universo das mulheres. Delicioso, engraçado, sensível e muito singelo. Meninas, não percam! Meninos, apurem os sentidos!
O que mais me chama atenção num filme como Caramelo é o retrato do cotidiano. Sim, porque abordar um tema específico, uma trama com começo, meio e fim é como contar uma história – não que seja fácil, de jeito nenhum. Mas neste caso, não tem um fato em si. É uma comédia de costumes. É como se a diretora libanesa Nadine Labaki tivesse entrado num cabelereiro e feito um retrato da vidinha de cinco mulheres que ali se encontram. Como ela mesma disse numa entrevista, “o filme é muito baseado na observação das pessoas e dos ambientes”, nada mais do que o retrato do cotidiano, sem glamour ou romantismo, assim como o a cera de caramelo que dá nome ao filme – afinal, é possível existir algo menos glamuroso do que depilação??
É em torno do caramelo da depilação (feito de água, açúcar e limão) que tudo acontece: Layale (interpretada pela diretora Nadine Labaki) é a dona do cabelereiro, moça lindíssima que se apaixona por um homem casado, sonha com o dia em que ele deixará a mulher e nem nota o olhar apaixonado do policial (único ator profissional do filme); Nisrine é funcionária, está de casamento marcado com um rapaz muçulmano e precisa arranjar um jeito de lhe contar que não é mais virgem; Rima trabalha no salão, tem um jeito, digamos, masculinizado e sente-se atraída por mulheres; Jamale é cliente da casa, foi abandonada pelo marido e morre de medo de parecer velha, a ponto até de mascarar até a chegada da menopausa; e Rose, uma senhora costureira, mora ali perto, cuida da irmã maluquinha e abdica de sua própria felicidade por ela.
Aí está o panorama repleto de ingredientes para alimentar tudo que acontece no filme: os diálogos, as confidências, as decepções amorosas, a cumplicidade entre amigas, a liberdade e o amor. Para completar o cenário, mostra Beirute, a cidade em que os muçulmanos convivem com os católicos, em que a língua francesa é onipresente, até no nome do cabelereiro Si Belle, e se mescla com o árabe a todo momento, em que as tradições patriarcais são fortemente marcadas.
Palmas para a cena final: não vou estragar o prazer, mas é de uma singela beleza, de pura libertação. Plageando o crítico Luis Carlos Merten, “um doce de filme”!
Ganhou o Prêmio do Público de San Sebastián e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
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