BRÓDER
Opinião
A primeira sessão de Bróder na Mostra de Cinema contou com a presença do diretor Jeferson De, produtores e atores. Na rodada de perguntas depois da exibição do filme, uma pessoa perguntou por que a classe alta era retratada de uma maneira tão caricata e artificial, a ponto de não causar identificação com o público. Humildemente, Jeferson considerou esse o ponto franco do seu filme. Disse que se aprofundou tanto nos personagens do Capão Redondo que talvez tenha deixado de lado os personagens da ala rica da cidade. Mas em seguida o ator Silvio Guindane (também no ótimo 5X Favela – Agora Por Nós Mesmos) pegou o microfone e chegou onde eu quero chegar.
Segundo ele, Jeferson não errou nos personagens de classe alta, mas sim fez um filme sobre favela do ponto de vista de quem conhece e conviveu nela, e não sob o olhar de fora – como tantos outros no Brasil. Para ele, Bróder (que também poderia ser ‘Mano’, afinal é assim que eles se chamam) fez a classe alta se sentir por fora, sem identidade com os personagens, estereotipada e sem essência, assim como a população da favela sempre se sentiu nos filmes anteriores. O primeiro longa de Jeferson De – melhor filme em Gramado e exibido até no Festival de Berlim – é uma produção de relações humanas. Segundo ele, sua vontade é fazer outros filmes assim, que sejam capaz de despir os estereótipos que uma classe tem da outra, que uma raça tem da outra. Ao serem apreendidos em uma blitz, o policial diz que os ‘elementos’ eram da ‘cor padrão’ – entenda-se negros. Da mesma forma que a atriz que representa a mulher rica, esposa do empresário de futebol, também sente que há preconceito por ser loira e branca. Ninguém escapa.
O protagonista Macu (o ótimo Caio Blat, também em Carandiru, As Melhores Coisas do Mundo, O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias) conta com seus dois amigos que já não vivem no Capão – um se mudou de bairro e é o bom moço; outro ficou rico jogando futebol na Espanha. Nessa relação de amizade entra a família, a escolha pela bandidagem e pelo dinheiro fácil ou pela honestidade suada do dia a dia (adorei Cássia Kiss no papel de mãe de Macu – muito boa, muito humana). Deu para sentir o quanto a equipe do filme se emocionou ao falar da preparação do elenco, roteiro e produção de Bróder. O filme fala da feijoada de aniversário e da família reunida; fala essencialmente das amizades e das escolhas que são feitas na vida a partir daí.
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Programe-se: Bróder está sendo exibido na 34ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Confira o horário abaixo:
ESPAÇO UNIBANÇO 3 – 31/10/2010 – 19:50 (Domingo)
Mais informações no site www.mostra.org. Estreia no circuito comercial em 2011.
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