AS VANTAGENS DE SER INVISÍVEL – The Perks of Being Wallflower
Opinião
Passar despercebido nos lugares tem lá suas vantagens. Tímida por natureza, eu bem sei o que é isso. Quem tem o dom do silêncio pode se sair melhor nas observações, pode se distanciar e notar tanto os detalhes quando o todo. Mas também confesso que tem implicações um tanto quando complicados, sobretudo quando quem passa despercebido é um adolescente, vivendo exatamente aquela fase em que ser notado e inserido é a condição primordial para sentir-se parte integrante do grupo, igual aos outros, querido aos olhos dos mais populares. E ser feliz – pelo menos aparentemente.
É desse momento, ao mesmo tempo mágico e cruel, que trata o filme As Vantagens de Ser Invisível. Na figura do protagonista Charlie (Logan Lerman), esse panorama do adolescente tímido, retraído e depressivo ganha um brilho especial. Calouro hostilizado, é finalmente acolhido pelos irmãos Patrick (Ezra Miller, também em Precisamos Falar sobre Kevin) e Sam (Emma Watson, também em Harry Potter e Sete Dias com Marilyn). É um acolhimento por empatia, de pessoas que já mais experientes, prestes a terminar o ensino médio. A aproximação entre Charlie, Sam e Patrick revela suas experiências e o tipo de adolescentes que se tornaram. Aceitam “o amor que pensam merecer” e precisam reconquistar a força, inerente da juventude, a força de virar a mesa. A história é justamente sobre a amizade do trio, que faz com que ganhem confiança, tratem suas feridas e lutem por seus sonhos. A amizade que faz toda a diferença.
Os diálogos são simbólicos de tudo o que parece finito e difícil de transpor. Da adolescência. Até a música entra nisso. Como estamos nos anos 80 (aliás, a trilha é superinteressante), os personagens ainda precisam buscar as canções na memória afetiva, na lembrança. Não estão ao alcance como hoje, a um clique no Google. Uma metáfora dos sentimentos que devem ser descobertos e vivenciados, para que criem raízes. Assim como as relações. Linda imagem e bela atuação do trio, que tem força e graça, garra e coragem de enfrentar os mistérios e desafios do fantasma da fase adulta, que se aproxima sem pedir licença.
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