ALÉM DAS PALAVRAS – A Quiet Passion

Cartaz do filme ALÉM DAS PALAVRAS – A Quiet Passion

Opinião

A pergunta que não quer calar é a seguinte: qual é o limite entre a convicção e a inflexibilidade? Emily Dickinson, poetisa americana que viveu em meados do século 19, escrevia como alguém de vanguarda. Não entendo nada de poesia, mas veja esta, por exemplo:

“A palavra morre
Quando é dita,
Alguém diz.
Eu digo que ela começa
A viver
Naquele dia.”

Tem um ritmo, uma modernidade (não parece século 19), a malícia de quem percebe a vida nos pormenores. Sutilezas, detalhes, jogo de palavras, algo subliminar, fonte de observação atenciosa. E de muito sentimento. Mas a vida de Emily foi mais pro agridoce. Neste registro do diretor Terence Davies, vai dando agonia acompanhar sua rigidez, sentir sua convicção sobre a vida e sobre as pessoas se transformar em inflexibilidade. A linha é tênue, Emily se afasta das pessoas por não conseguir abandonar suas crenças, sua verdade.

Numa direção de arte impecável, a poetisa e sua família passam pelo século 19 sofrendo as transformações daquele tempo. Emily desafia os padrões sociais, mergulha no ambiente familiar, fica isolada, só na sua escrita, até adoecer. Provavelmente de tristeza. Incontrolável – ela se perguntava porque agia com tanto crueldade, porque sua ironia era tão feroz, porque não conseguia aceitar as pessoas como ela eram.

Profundo e sensível, Além das Palavras é isso mesmo. Sua poesia era seu contato com o mundo, na sua pessoa mais íntima. Originalmente, o título também sugere esse mergulho, uma “paixão silenciosa”, que seria até melhor se fosse solitária.

Trailers

Comentários