A INVENÇÃO DE HUGO CABRET – Hugo

Cartaz do filme A INVENÇÃO DE HUGO CABRET – Hugo

Opinião

“A história que estou prestes a contar se passa em 1931, sob os telhados de Paris. Aqui, você conhecerá um menino chamado Hugo Cabret, que, certa vez, muito tempo atrás, descobriu um misterioso desenho que mudou sua vida para sempre.”

– narrador

Assim começa o livro A Invenção de Hugo Cabret, de Brian Selznick, que deu origem ao filme homônimo. Neste livro de ilustrações lindíssimas, o narrador diz ainda mais. Pede que o leitor se imagine em uma sala escura, como no início de um filme, que acompanhe o zoom até o saguão da estação de trem lotada, onde verá um menino no meio da multidão. É preciso segui-lo, já que o garoto tem muitos segredos na cabeça e uma história para contar. E é assim mesmo que acontece, como se o leitor-espectador estivesse vendo e fazendo um filme ao mesmo tempo. O diretor Martin Scorsese (também em Ilha do Medo) seguiu à risca as instruções iniciais do autor quando adaptou o livro para o cinema. Mais do que uma adorável aventura pela Paris dos anos 1930, pelo maquinário fascinante dos relógios da estação de trem e pelos sonhos e aventuras da adolescência, A Invenção de Hugo Cabret é uma homenagem ao cinema e suas origens.

Indicado ao Oscar em 11 categorias, é um forte concorrente ao prêmio deste domingo, 26 de fevereiro. Hugo (Asa Butterfield, também em O Menino do Pijama Listrado) é filho de um relojoeiro, que além de consertar relógios é fanático por autômatos. Encontra um deles num sótão de um museu e dedica-se a consertá-lo. Mas morre repentinamente e Hugo teima em continuar a tarefa começada, na esperança de que o robô traga uma mensagem do pai (Jude Law, também em Contágio, Sherlock Holmes, Closer – Perto Demais). Vagando pela estação de trem, onde vive ajustando e dando corda nos relógios, as anotações sobre o autômato vão parar nas mãos do entristecido e emburrado dono da loja de brinquedos (Ben Kingsley, também em Gandhi, A Lista de Schindler, Ilha do Medo, Fatal), que não tem outra escapatória senão se defrontar com o passado e enfrentar a curiosidade do garoto e de sua sobrinha Isabelle (Chloë Grace Moretz). Hugo vive entre a precisão dos relógios, a necessidade de não deixar escapar os minutos e segundos, e a dos sonhos, presentes no enigma e no mistério do autômato. Assim é o cinema, também oscilando entre realidade e ficção, observação e atitude.

Sem que a gente se dê conta, o filme conta uma história que ficou distante para a maioria de nós e que pouca gente sabe. Portanto, tem um valor didático enorme ao resgatar o início do cinema realista com os irmãos Lumière e a trajetória do ilusionista George Méliès com seu cinema “fábrica de sonhos” do final do século 19, mostrando a produção de cenários e ilusões em alguns de seus mais de 500 filmes. Muita gente anda perguntando se é indicado para crianças – como diz a classificação oficial do filme. Eu diria que não é um contexto infantil, de simples aventura. É mais sutil e contextualizado do que isso. Crianças maiores, a partir dos 10 anos, talvez aproveitam mais, principalmente se souberem um pouco desse contexto do cinema, se contarmos a eles que o personagem de Ben Kingsley realmente existiu e que há mais de 100 anos o cinema já se apresentava ao público como criação, imaginação, recurso para deixar a realidade de lado e entrar no mundo dos sonhos. Apesar da pequena diferença no final do filme e do livro, a homenagem ao poder da boa narrativa é uma só.

 

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