360

Cartaz do filme 360

Opinião

Não sabia que este tipo de filme que conta a história de vários personagens, que se entrelaçam em algum momento da narrativa, chama-se filme-coral. Quem contou isso foi Fernando Meirelles, diretor de 360, filme de abertura do Festival de Cinema de Gramado. Interessante essa denominação. E faz todo sentido: um filme com várias vozes, que separadas têm sua força, sua marca, mas juntas formam um todo, um significado diferente. Nessa mesma categoria estão os sempre ótimos Babel e Magnólia (filmes fortíssimos, diga-se de passagem).

Meirelles está em Gramado para promover o filme que estreia dia 17 em circuito nacional. Custou US$ 14 milhões e já foi vendido para 48 países. “É um filme independente, portanto tudo o que está ali é escolha do diretor”, conta ele. “Fui eu quem escolheu o elenco e a ideia de misturar astros conhecidos como Jude Law, Rachel Weisz e Anthony Hopkins com outros desconhecidos foi proposital, mas o ator russo, por exemplo, é desconhecido aqui, mas superfamoso em seu país”, completa. Já havia no roteiro de Peter Morgan os personagens brasileiros, representados por Juliano Cazarré e Maria Flor, que está também em Gramado e contou que contracenar com Anthony Hopkins foi especial, técnico e que a deixa mais preparada para futuros desafios. “Ele foi generoso, mas atua focado nele mesmo, mas foi fantástico”, conta ela.

Se a ideia, como diz o diretor, era fazer um filme sobre conflitos humanos, cada um com seu problema, independente de raça, cor, religião, estado civil, conseguiu. Essencialmente, 360é sobre escolhas. “Nãohá um inimigo em comum, algo que faça os personagens lutarem contra. Eles lutam contra eles mesmos, suas próprias limitações e seus desejos que devem ser reprimidos em prol da construção de uma civilização”, explica ele, também diretor de Cidade de Deus, Ensaio sobre a Cegueira, O Jardineiro Fiel, além da produção de inúmeros títulos, entre eles Xingu, José e Pilar, Lixo Extraordinário. Preocupação constante do diretor, conta ele, afinal, é a repressão dos desejos que constrói arte, história, religião, tradição. Sentiu como se tivesse feito vários curtas, um sobre cada personagem, e precisasse criar maneiras de unir todas as histórias.

Talvez tenha sido assim que surgiu o “fechamento do ciclo”, a ideia embutida no título 360. E suas histórias tratam de uma questão universal, problemas semelhantes em qualquer lugar do mundo, E problemas, por mais que o leque de opções seja imenso, pode se resumir em algo tão simples como “relacionamento”.

Vejamos: uma garota eslovaca acha que a prostituição é a única maneira de ganhar dinheiro rápido, é contratada por um executivo inglês que viaja a trabalho, casado com uma  mulher que se envolve com um homem mais moço. Este, por sua vez é deixado pela mulher, que encontra um senhor alcoólatra à procurada filha desaparecida e que quase cai nas garras de um maníaco. Mas tais prostitutas são administradas por um cafetão, que tem um fiel motorista, casado com uma moça infeliz, apaixonada pelo chefe. Sem dar nome aos bois (e não tente descobrir quem é quem, para não perder a graça) é um emaranhado de narrativas que ressaltam o comum do homem, na suas dificuldades de relacionamento com o outro e consigo próprio.

O filme causa suspense e curiosidade quando precisa – algumas vezes chega a ser intenso no desfecho, mas na maioria das vezes, é sutil nos pequenos detalhes. “A trilha sonora une tudo isso”, conta ele, apresentando o trabalho de Ciça Meirelles. Segundo ela, embora não seja compositora, ao ler o roteiro já conseguiu visualizar (e sentir) a música por trás de cada personagem. Mas nem todos têm a mesma profundidade, alguns realmente parecem dispensáveis, a não ser que você olhe pelo prisma individual de cada um, pelo interessante que pode ser cada dilema pessoal. “Todos passam por um momento de decisão, de tomada de consciência de que caminho tomar diante de uma bifurcação”, arremata o diretor.

De fato, prefiro assim, olhar as histórias separadas – senão alguns deles parecem superficiais, o que enfraquece um pouco a narrativa. Depois da entrevista coletiva, gostei mais do filme. Entrei mais nessa visão  dos bastidores, na ideia do diretor. Fundamental, essa impressão pessoal e vivência de quem filma e de quem coloca a sua experiência pessoal no trabalho. Próximo filme de Meirelles? Ainda no exterior, uma história sobre o magnata grego Onassis. Depois promete voltar a filmar no Brasil. Ótima notícia, já estava na hora.

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