UM BATE-PRONTO DO OSCAR 2018

Um bate-pronto sobre os filmes indicados ao Oscar 2018. Pode assistir – todos valem o seu ingresso:

  • Guerra é o que há de mais concreto, é sempre assunto e só nesta temporada temos dois. Ambos histórias reais, ambos só acontecem por causa do primeiro-ministro inglês, Winston Churchill – curioso, talvez estejamos tão carentes de liderança que ficamos revivendo, sem parar, aqueles que já se foram. Dunkirk é fabuloso – no ar, na terra, no mar e no esforço de uma nação unida que ouve seu líder e se junta pra salvar seus soldados; O Destino de uma Nação é justamente sobre essa liderança – seu lado estratégico e humano, o forte e o fraco;
  • Ainda sobre guerra, mas a ideológica, a ética. Também história real. Guerra da mídia, pela informação e poder. The Post – A Guerra Secreta é sobre as mentiras que o governo conta pra gente, a importância de uma mídia livre e investigativa, e o preço da verdade. Papel social, cidadão, trabalho de equipe – e, de novo, a diferença que faz uma liderança nessa vida; nessa linha da ética, da meia-verdade, da pós-verdade: Tonya Harding, a patinadora que agride sua rival nas Olimpíadas e conta sua versão dos fatos. Eu, Tonya é um retrato dos pontos a mais de quem conta um conto;  
  • Todo mundo passa por isso e o tema sempre será pautado pelo cinema. Rito de passagem, adolescência para a vida jovem-adulta, do colégio à faculdade, dos pais à autonomia, da dúvida à descoberta. Lady Bird – É Hora de Voar recorta o momento, o lugar ordinário – e um dos mais complexos – das nossas vidas;
  • E por falar em sentimentos complexos, o maioral: o amor. A Forma da Água é um convite ao mergulho num universo de emoções, de imaginários, de sentidos, que prescinde de palavras. É visceral; Me Chame Pelo Meu Nome também vai nessa linha, mas é possível, a cara da paixão improvável, porém inevitável; Trama Fantasma vai na linha de que não há ponto sem nó, tecendo um emaranhado de sentimentos, num amor estiloso e intrigante;
  • Da magia do cinema de criar narrativas tragicômicas, absurdas, irreais e totalmente fora da caixa pra descrever nossos perversos, maldosos e preconceituosos sentimentos, dois exemplares: corra de Corra! se não gostar de filme estranho e de terror; mas se tiver estômago, encare. No fundo, a gente veste a carapuça desse preconceito velado e o filme, além de original, é muito bem amarrado. E mentes originais, mesmo que dentro do universo do absurdo, criam obras inacreditáveis: Três Anúncios para um Crime é uma sucessão de absurdos, de surpresas, de ironias, num emaranhado de relações humanas sem igual;
  • Da infância perdida, da vida de ilusões, mas da afetividade que nada contra a corrente e sobrevive apesar de tudo, temos o profundo, suave e triste Projeto Flórida; amor salva, só pode ser;
  • E quando não tem amor de nenhum lado, sobre preconceito e violência, a história se constrói na lama. Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi é um atoleiro só – mas foi a gente que inventou e se meteu lá dentro. Agora precisa sair.

 

GARIMPO dos FILMES ESTRANGEIROS no OSCAR 2018

Que safra! Um pot-pourri de altíssima qualidade, cinema de primeira, diálogos importantes, num apanhado profundo sobre a intolerância humana – o mal do momento, que não tem data pra terminar.

  • Como toda regra tem exceção, a Hungria de Corpo e Alma é o único que fala de amor – que acontece entre dois improváveis personagens, num filme estranho e diferente, lindo e sensível; vai pro campo dos sonhos, da alma gêmea, da sincronia de pensamentos e sensações. Uma pérola;
  • Migre para o oposto – protótipo da dureza, frieza, indiferença. Sem Amor está mais pra desamor, acentuado pela paisagem fria da Rússia, na relação de pessoas que não se comunicam, na comunicação que destrói, na destruição que contagia;
  • Tanto contagia que não deixa barato. Uma simples resposta atravessada vai parar nos tribunais em O Insulto – na colcha de retalhos de um Líbano de palestinos e católicos, de jornadas que se misturam e processam rancores e mágoas históricas, fazendo das vidas particulares verdadeiros tratados e lavagens de roupa suja que vêm das profundezas da alma;
  • Intolerância transcende a política e a religião, vai pra esfera da sexualidade em Uma Mulher Fantástica, na importância do olhar para a realidade cruel enfrentada por transsexuais. Universal, o retrato chileno é urgente, fundamental e sensível;
  • Se é preciso sensibilidade pra entender e, talvez, apreciar a arte contemporânea, é preciso publicidade pra fazer a arte acontecer. Será? The Square – A Arte da Discórdia desmistifica as sociedades perfeitas, nos faz lembrar que somos todos feitos da mesma matéria – com todos aqueles podres incluídos -, e deixa a pergunta: quais são os quadrados em que nos metemos e que nos engessam tanto nessa vida?