A NATUREZA DAS COISAS INVISÍVEIS
Opinião
Muitas vezes os filmes que trazem o olhar da criança para centro da narrativa prestam um grande serviço aos adultos. Nós, adultos, temos a chance, então, de ver o mundo através do ponto de vista infantil — mas não infantilizado, que fique claro. É o ponto de vista de quem faz as perguntas óbvias e necessárias, que normalmente são vetadas pelo senso crítico e cheio das ideias pré-concebidas da vida adulta. A NATUREZA DAS COISAS INVISÍVEIS joga luz em assuntos invizibilizados pela nossa própria incapacidade de lidar com eles — mas também invisíveis porque só vê quem se abre para o novo. Joga uma luz suave, delicada e colorida, pincelada por objetos e gestos de afeto através do olhar de Glória e Sofia.
Duas meninas que se encontram pela primeira vez no hospital onde a mãe de Glória é enfermeira. Glória, por sua vez, fez transplante de coração e tem fresca a lembrança de sua quase-morte. Sofia socorre a bisavó, que passa mal e vai parar no mesmo hospital. A morte se faz presente pra ela também. Tentando entender como vai lidar com a situação a partir deste momento em que a morte é personagem deste local, as meninas se conectam no ambiente lúdico próprio da idade, mas também no universo da curiosidade próprio da saída da infância. Enquanto as mães formam uma rede de apoio tão necessária, as filhas se perguntam sobre a morte, o luto, as almas, a natureza daquilo que não se vê. Mas se sente.
Do hospital para o sítio, o ambiente impessoal e monocromático se transforma em cores e movimento pra dizer como a sensibilidade feminina, nas suas diferentes idades e saberes, constrói significado, cultura, tradução; como ela explica os mistérios, cura e transforma o corpo e a alma. Enquanto Glória e Sofia vão viver dias intensos ao ar livre, realmente libertas das amarras adultas, reflexões sobre assuntos sensíveis e delicados são levantados sem julgamento de valor — Bento que o diga! São temas abordados naturalmente, deixando claro que fazem parte da natureza humana. Natureza com que, quando conectados, os humanos são capazes de enxergar e interagir.

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