SORRY, BABY

Cartaz do filme SORRY, BABY

Opinião

Tem um quê de Fleabag e isso traz frescor a SORRY, BABY. Coloca o filme de estreia da Eva Victor na prateleira das obras autorais-raiz. A história tem um diálogo intenso e profundo com o sentido de cura. Autoral-raiz porque além de roteirista e diretora, Eva é também protagonista na pele de Agnes, uma mulher que precisa falar sobre a violência sexual que sofreu (embora só sua melhor amiga tenha dado importância) e juntar os cacos. O tom é intimista e genuíno, e gosto de pensar que superação não é o termo certo pra lidar com traumas deste porte. Agnes nunca será a mesma depois dessa experiência e o passo seguinte é saber como seguir com esta experiência na bagagem da vida.

Eva Victor conta uma história autobiográfica e revive a violência sexual sofrida, sem que pra isso precise mostrá-la. Um jogo interessante de nuances sinaliza não só o ato em si, mas também a incredulidade de estarmos ainda num terreno sombrio e cinzento do acobertamento das violências contra a mulher, inclusive por mulheres. Decisão que transforma o filme em uma jornada de cura — o que dá a ele uma amplitude maior, podendo abarcar a noção de que outros traumas precisam de luto e compreensão da sua dimensão. Não precisa de superação, mas sim de compreensão de que eles fazem parte da pessoa que se forma a partir dessa vivência. Conseguir olhar pra essa ferida e vê-la cicatrizando é o que a personagem precisa. Faz isso sem filtro, com  e dialogando fortemente com o espectador, tanto homens, quanto mulheres. Praticamente olho no olho.

“Eu queria contar uma história sobre a tentativa de cura de algo realmente muito difícil”, diz ela em coletiva de imprensa virtual para votantes do Globo de Ouro, grupo de jornalistas do qual faço parte. “E também sobre uma amizade que salvou a minha vida e me ajudou a seguir em frente.” Sim, é também sobre a rede de apoio, a amizade e a capacidade de compartilhar as experiências traumáticas. Curar é encontrar o caminho depois de ficar sem chão.

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