INFÂNCIA ROUBADA – Tsotsi
Opinião
Dizem alguns que este filme é a versão sul-africana de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles (também de O Jardineiro Fiel). Não é, definitivamente. A produção brasileira é incrível porque a atroz realidade da sociedade choca, do começo ao fim. Choca por ser real e artística ao mesmo tempo. Infância Roubada também retrata a realidade das favelas, mas sem a veracidade, muito menos a arte, do filme de Meirelles.
Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006, Infância Roubada conta a história da guerrilha urbana comum a qualquer grande cidade, onde está estampado o abismo entre as classes sociais dos países subdesenvolvidos, ou em desenvolvimento. O filme ganha esse nome em português porque trata justamente da questão dos jovens delinquentes das favelas de Johanesburgo, na África do Sul, como se a infância problemática e traumática justificasse a bandidagem da fase adulta. Não gosto da escolha, mesmo porque o termo é um clichê sociológico. Melhor seria manter o título original, Tsotsi, apelido do protagonista, líder da gangue que assalta, mata, sequestra com a certeza da impunidade.
O filme vai num crescente, é verdade, mas a cena final é o que eu mais gosto nele. No decorrer da história, fica clara a sensação de abandono da sociedade marginalizada, de como uma infância violenta e sem carinho traumatiza e não dá opções além do “salve-se quem puder”. Também é lógica a condição de reféns dos moradores honestos e trabalhadores das favelas, suscetíveis ao crime que mora ao lado. Mas achei que o diretor Gavin Hood vitimiza o personagem e dramatiza demais em algumas cenas. Talvez por isso o fim me agrade mais. É o clímax, é onde está a dúvida, o questionamento. É aqui que ficamos presos, até o desfecho. A África do Sul (também retratada em Invictus), tão falada por causa da Copa do Mundo, tem aqui uma dimensão nada poética e bastante comum aos nossos olhos (a realidade das favelas está em filmes brasileiros como Linha de Passe e Última Parada 174).
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