AS MELHORES COISAS DO MUNDO
Opinião
“Não é impossível ser feliz depois que a gente cresce; só é mais complicado.”
Mano
Naquela época não havia celular, mensagens instantâneas ou blogs. Aliás, nem sonhávamos com isso. Mas é bem verdade – e é aqui que o filme realmente diz a que veio – que tudo mais o que é mostrado em As Melhores Coisas do Mundo fez parte da adolescência de todos nós. Mesmo sem as ferramentas que estão nas mãos dos alunos do ensino médio de hoje, nossa vida também era permeada pela turma, por muitas descobertas, inseguranças, decepções e farras. O filme de Laís Bodanzky (também de Bicho de Sete Cabeças) tem esse olhar – é como se nós estivéssemos lá.
Com roteiro baseado na série de livros Mano, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Pietro, o filme consegue falar, com muita sensibilidade e naturalidade, de problemas típicos dessa fase tão complexa. Acho que o elenco ajuda: de um lado, os mais velhos e experientes no papel de mãe, pai e professores, com Denise Fraga, José Carlos Machado, Paulo Vilhena e Caio Blat, respectivamente; de outro, os artistas adolescentes novatos, representando eles próprios. Independente de a vida do jovem ser inserida dia e noite no chamado ciberespaço, não é ele que dá o tom. É através de Mano (Francisco Miguez), de 15 anos, que a diretora trata da descoberta da sexualidade, da pressão para perder a virgindade, do “ficar”. É pela experiência de Mano que é abordada a separação dos pais e a perda do núcleo familiar, o tão falado bullying, o cigarro e as drogas, a fofoca, a necessidade de ser aceito, a perda do amor que leva o jovem até as últimas conseqüências.
Para quem está familiarizado com a paisagem paulistana, a ambientação é praticamente o espelho de uma lembrança. As músicas lembram o universo jovem; as roupas, a necessidade de parecer jovem e de ser igual a todos. Mas o que arremata a ideia central de que adolescente é adolescente em qualquer lugar do mundo e enfrenta praticamente as mesmas questões, é a escolha de Something, dos Beatles, como canção-chave. Imortal e atemporal, transporta As Melhores Coisa do Mundo para qualquer época. Essa sutileza emociona. Basta ter sido adolescente para perceber.
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