REZA A LENDA
Opinião
Reza a Lenda é diferente. E corajoso. Foge do padrão do cinema nacional e tem um recorte bem bacana da brasilidade do sertão nordestino, “algo moderno e fantasioso”, como bem disse o diretor Homero Olivetto. Tem cara de terra de ninguém, de briga pelo poder, de coronéis contra marginais e é inevitável pensar na visão de um “Mad Max” brasileiro.
Filmado na região de Petrolina, conta a história da disputa pela posse de uma determinada santa, que faria chover no sertão. Tem aquela pegada da luta religiosa, da violência justificada porque é em nome do divino. “Escrevi um conto há 20 anos e depois trabalhei no roteiro para fazer o longa”, conta Homero. “É ficção, mas tudo que está na tela foi construído com base na realidade: a seca, as estradas, a energia eólica, as motos no lugar de cavalos, o figurino baseado nas roupas dos boias-frias, mas com a lente da cultura pop que a gente conhece.”
Bem econômico nas palavras, o forte de Reza a Lenda são os olhares e pistas deixadas pelo caminho, que constroem as relações. Ara (Cauã Reymond) é o líder do bando de motoqueiros, namora Severina (Sophie Carlotte), que se sente ameaçada pela entrada da jovem Laura (Luisa Arraes) na trama. Esse bando sem lenço nem documento atiça a ira do coronel Tenório (Humberto Martins) e só se salva quem pode.
O diretor Homero resume bem quando diz que o filme trata basicamente da opressão, que vem de diversas formas: na natureza, na seca, na religião. Mas não se trata de uma obra de crítica social ou coisa parecida. É entretenimento, um conto sobre o sertão, com estilo, beleza estética e boas interpretações. Grata surpresa.
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