11 DE SETEMBRO – 11’09”01
Opinião
Um mesmo tema, sob diferentes perspectivas. Assim como na série de filmes sobre cidades do mundo, chamado Cities of Love (que já tem Paris, Eu Te Amo e New York, Eu Te Amo e ainda promete Rio, Jerusalém e Xangai), diretores de diversas partes do mundo foram convidados a fazer um curta sobre um assunto: o atentado terrorista às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Cada um teria 11 minutos e 9 segundos para imprimir sua emoção sobre o assunto e o que se vê são 11 filmes diferentes, com linguagens, culturas, pontos de vista e emoção distintos. Gosto desse tipo de trabalho, ainda mais num tema tão perturbador como a intolerância religiosa, a violência a qualquer custo, a luta pelo poder transformada na sua forma mais perturbada de expressão que é o terrorismo.
Assim como a torre de babel que é Nova York – e eram as torres que desabaram no coração de Manhattan – 11 de Setembro introduz cada um dos curtas localizando no mapa mundi a nacionalidade do diretor. Globaliza o fato, suas consequências, sua dimensão. Do Irã, Samira Makhmalbaf (também de Às Cinco da Tarde, Green Days) mostra lindamente uma professora tentando mostrar a crianças afegãs refugiadas no Irã a dimensão do atentado para o mundo; da França, Claude Lelouch (também de Um Homem, Uma Mulher, Esses Amores) mostra o silêncio e isolamento do mundo da uma surda-muda em contraste com o caos do atentado; do Egito, Youssef Chahine conta como um diretor de cinema sente compaixão pelas vítimas de qualquer forma de violência (não me tocou muito, é verdade). Da Bósnia-Herzegovina, Danis Tanovic remete à Guerra da Bósnia, ao massacre de Srebrenica, também intolerância religiosa; de Burkina Faso, Idrissa Oudraogo mostra garotos deste paupérrimo país africano tentando prender Bin Laden, quase uma aventura; da Inglaterra, Ken Loach (também de À Procura de Eric) faz um paralelo com o 11 de setembro de 73, quando Allende é deposto no Chile, através de um chileno refugiado em Londres – muito interessante.
Do México, Alejandro Gonzalez Iñarritu (também de Biutiful, Babel, 21 Gramas, Amores Brutos) causa estranheza com a ausência de imagens, cenas de pessoas se jogando das torres – para chocar e fazer refletir, como de costume; de Israel, Amos Gitai (também de Aproximação, Free Zone, O Dia do Perdão), mostra o atentado a bomba em Jerusalém, que aconteceu ao mesmo tempo do que o ataque às Torres Gêmeas – confusão de sentimentos, nacionalidades, morteos, tragédias humanas entrelaçadas; da Índia, Mira Nair enfatiza o sentimento contra os muçulmanos em todo o mundo depois atentado; Sean Penn (também de Na Natureza Selvagem) dirige um curta poético, sobre a sombra do WTC nos prédios vizinhos; e do Japão, o filme menos envolvente e mais abstrato, Shohei Imamura não faz referência ao atentado em si, mas às guerras santas – ou ausência delas.
Como disse, gosto desse tipo de trabalho que propõe uma exposição sem restrições e sem censura, algo realmente autoral.
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