A ALMA DA GENTE

Cartaz do filme A ALMA DA GENTE
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Opinião

Transferir o ritmo para o gesto. As mãos falam, impõem o compasso do corpo, dos pés, do olhar. O gesto diz a que veio e transforma. Depois de três anos de trabalho com 60 adolescentes do Complexo da Maré e três espetáculos montados, A Alma da Gente mostra e demonstra como um projeto de dança e educação pode mudar a rotina de uma comunidade, os sonhos dos adolescentes, a expectativa dos jovens e a realidade dos futuros adultos. Emocionante, mesmo para quem não tem essa vivência da dança. O processo é mais profundo e diz respeito a todos nós.

Começado em 2002, o projeto Corpo de Dança da Maré fez a diferença na vida dos adolescentes carentes daquela comunidade. O que a gente vê no filme não é só a produção do espetáculo Dança das Marés, mas um processo de construção. Os depoimentos mostram como a chegada do projeto alterou a rotina; que ir para a escola era chato, mas ter a dança dava uma injeção de ânimo e novidade; que o movimento trouxe novas possibilidades futuras aos jovens. Claro que não é capaz de transformar tudo e todos – se fosse, seria fórmula mágica. Mas planta uma semente na alma.

Depois desse período em que o projeto fica na comunidade, os jovens retomam sua vida. Após 10 anos, a equipe de produção e e os diretores Helena Solberg e David Meyer procuram aqueles jovens, hoje adultos, para saber o que andam fazendo da vida e como a experiência da dança interferiu na sua vida. Aline, por exemplo, queria antes ser psicóloga, com dança passou a se interessar pela fisioterapia, e 10 anos depois ficamos sabendo que ela se tornou uma advogada.

Imagino que quem viva a realidade da dança se encante mais profundamente com o filme. Mas mesmo quem não vive e sabe o valor do processo educativo, seja ele forma ou informal, dentro ou fora da escola, toca a alma. É bem o que disse Jacira, de 13 anos, uma das jovens entrevistadas: “Eu queria ser marinheira. Sabia que tinha que estudar estudar. Eu sabia que eu tinha que começar, mas não antes eu não sabia nem por onde. Agora eu já sei.” E saber não significa que as coisas se concretizem, mas abre portas, suscita mudanças e aumentas as chances de transformação. A mesma Jacira resume bem o que seria o mundo se muitos pensassem como Bertazzo: “O mundo não seria baile, bunda, tráfego; violência, guerra e morte. Na minha opinião o mundo seria pra arte, arte, arte”.

O coreógrafo e educador diz que não quer o acerto do passo, mas quer energia, força do olhar. A Alma da Gente tem essa força, merece ser visto. Eu tive a oportunidade de assistir a Milágrimas, de Ivaldo Bertazzo, e me lembro justamente desse compasso ritmado e equilibrado do movimento, do passo e do som que o próprio corpo produz. Parece mesmo um uníssono, mas com a certeza de que cada um ali no palco tem sua individualidade. Para mim, esse é o grande trunfo.

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