VOCÊ NUNCA ESTEVE REALMENTE AQUI – You Were Never Really Here
Opinião
Veterano de guerra, Joe tem a mente perturbada, ficou profundamente traumatizado e vive solitário. O único momento em que a afetividade tem espaço é quando cuida da mãe. As memórias resgatam o que sobrou de amorosidade. Acostumado à violência, dedica-se a libertar meninas mantidas em cativeiro vítimas de esquemas de prostituição infantil. Você Nunca Esteve Realmente Aqui é sobre esse sujeito, cuja mente e coração não estão mais neste mundo.
Joaquin Phoenix (também em O Homem Irracional, Ela, Amantes) levou o prêmio de melhor ator em Cannes – e é mesmo. Forte, intenso e absolutamente entregue ao personagem, Phoenix mostra a mente e corpo desconexos, alheios e insensíveis. Praticamente um matador automatizado. Descobre os esquemas que mantêm adolescentes sequestradas no coração da cidade, forçadas a serem escravas sexuais de famosos, políticos e empresários. Impressionante a presença e o desespero do personagem – que também impressiona quando é amoroso, quando canta com a mãe, quando se importa. São pessoas diferentes.
A força de Phoenix está afiada com a intensidade da diretora Lynne Ramsay, também de Precisamos Falar sobre Kevin. Na construção de personagens antagônicos, com profundos distúrbios mentais, Ramsay (indicada à Palma de Ouro pelos dois filmes) é econômica nos diálogos e diz só o que precisa. Imagens, trilha sonora e atuação são suficientes pra construir o clima tenso, pesado e perturbador que permanece até o final. Só um polo oposto seria capaz de tirá-lo da apatia e desesperança violenta em que vive. E isso é tocante.
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