UMA LONGA VIAGEM – The Railway Man
Opinião
Muito cuidado ao assistir ao trailer deste filme – ele revela praticamente todas as surpresas, tira o charme da trama e em troca você consegue deduzir aquilo que ficou subentendido. Não dá pra montar trailer assim! O filme é bom e o espectador tem o direito de se surpreender real e genuinamente. Como já disse várias vezes aqui, leio pouco antes de assistir aos filmes, para que a primeira sensação seja desprovida de preconceitos e pré-conceitos. Com Uma Longa Viagem foi assim. Por isso, cuidado com o que você lê por aí, porque esta produção, baseada no livro autobiográfico de Eric Lomax, tem uma trama bem construída, que me pegou de surpresa e realmente me emocionou.
Pode até seja por causa dessa fase mais emotiva, em que os sentimentos estão à flor da pele. Mas basta um pouco de interesse pela história das guerras, um olhar basicamente crítico para as decisões atrozes dos homens e uma amolecida no coração para vestir a camisa do filme e incorporar as inúmeras situações vividas pelos personagens (claro que no sentido figurativo), para sentir emoções que são parte da vida de qualquer um: raiva, ódio, desesperança, compaixão, amor.
Uma Longa Viagem, que no título original faz menção ao “homem da ferrovia”, referindo-se aos prisioneiros aliados que construíram os caminhos de ferro a mando dos japoneses, durante a Segunda Guerra, conta com a forte atuação de Colin Firth (também em Magia ao Luar, O Discurso do Rei, Direito de Amar, Antes de Dormir) e Nicole Kidman (também em Segredos de Sangue, Os Outros, As Horas, Reencontrando a Felicidade, Antes de Dormir). O casal tem liga e convence na sintonia necessária para acreditar que Patti (Kidman) é quem questiona a infelicidade do marido Eric, seu bloqueio em falar da sua experiência durante a guerra, sua apatia diante da vida. Logo ficamos sabendo da sua traumática experiência como prisioneiro de guerra no Japão, dos mau tratos e de como isso impactou seu futuro e a perspectiva de vida daqueles que sobreviveram.
Essa longa viagem é o que Eric faz, na tentativa de rever seu passado e passá-lo a limpo. Ou melhor, na tentativa de simplesmente viver o presente – coisa que as lembranças da guerra não permitem. Gosto mais do título original, tem peso, significado, importância – na sua crueldade, no seu resultado, na sua permanência no tempo. Afinal, são esses três fatores que pesam sob os ombros desse ex-combatente e que conseguem trazer a emoção ao filme, sem cair no clichê e sem precisar dar lição de moral. É o tipo de filme que cada um recebe de acordo com o estado de espírito: para uns será um relato histórico interessante; para outros, uma revisão de valores. Eu me emocionei. Excepcionalmente, este comentário vai sem trailer, porque se eu fosse você, não assistiria.
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