Um Daqueles Dias em que Hemme Morre – ONE OF THOSE DAYS WHEN HEMME DIES

Cartaz do filme Um Daqueles Dias em que Hemme Morre – ONE OF THOSE DAYS WHEN HEMME DIES

Opinião

Cada filme desperta na gente um sentimento e até hoje fico intrigada quando uma história se transforma a partir do momento em que eu saio do cinema. Assisti incomodada a UM DAQUELES DIAS EM QUE HEMME MORRE, do turco Murat Firatoglu, achando que o personagem não tinha me levado a lugar nenhum. Ledo engano. Levou, mas demorei pra encontrar o caminho.

O título não ajuda, mas não é por acaso. Firatoglu solta a informação de que algo pode acontecer e basta pra criar a expectativa. Isso porque Hemme é o patrão de Eyüp, que trabalha na colheita e salga de tomate na Turquia. O calor é escaldante, as condições de trabalho precárias, mas é o que Eyüp tem pra hoje. Endividado, se mata de trabalhar e engole sapos pra poder pagar o credor.

Mas o desentendimento acontece e Eyüp fica furioso, resolve ir até o vilarejo, a moto quebra, ele tenta consertar e o ciclo de raiva vai se dissolvendo aos poucos. Um senhor que precisa de ajuda pra caminhar e abrir a melancia que vai aliviar o calor; outro que resolve prosear debaixo da árvore. As ruelas vazias no calor escaldante parecem que ele anda em círculos e eu fui ficando impaciente.

O filme propõe a quebra de expectativas. Algo acontece, mesmo que não seja nada de especial. Aliás, nossa única certeza é que o trivial da vida acontece. A gentileza de Eyüp chama a atenção, mais do que o ataque de raiva repentino — que é compreensível diante de uma condição de trabalho desgastante e injusta. Ele escuta o outro e quando o sol já está se pondo, o que resta daquele dia já não é a mesma coisa do começo.

UM DAQUELES DIAS EM QUE HEMME MORRE nos desafia no ritmo, na aridez e no calor que contrastam com o vermelho dos tomates da cena inicial, numa fotografia linda, responsável pela sensação que o filme produz. Fiquei me lembrando dos filmes turcos-raiz que propunham a experiência de assistir à rotina se desenrolar, de ouvir a diálogos que não importam pra narrativa, nem para o desenrolar da jornada do protagonista. É sobre isso. Se tiver pressa, pense duas vezes; se estiver aberto para contemplar, vai ver que no fim das contas o que salva é sempre a arte.

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