TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ – ALL WE IMAGINE AS LIGHT

Cartaz do filme TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ – ALL WE IMAGINE AS LIGHT

Opinião

É o tipo de filme protetor.: nos protege do perigo iminente da história única – sobre o qual já comentei aqui. Aquele perigo de a gente achar que um certo lugar só sabe contar um tipo de história; como se um viés único definisse um lugar. Contar uma história sobre a Índia pode ter muitos olhares. O foco da cineasta Payal Kapadia é a mulher comum, na sua jornada diária de trabalho na frenética e caótica Mumbai, mas principalmente na percepção que ela tem de si nos relacionamentos amorosos, no namoro e no casamento, na relação sexual, na cumplicidade com outras mulheres, na sororidade. Na percepção que ela tem do machismo, do patriarcado, da construção social. Da metrópole barulhenta e poluída, da necessidade de silenciar e jogar luz no seu interior pra se reconhecer de verdade.

TUDO QUE IMAGINAMOS COMO LUZ levou pra casa o Grande Prêmio do Júri em Cannes este ano e diz a que veio. Veio mostrar a sutileza da mulher comum, oprimida pelas regras ligadas ao gênero e à classe social, mas que vê na mulher ao seu lado a aliança necessária pra seguir em frente; veio mostrar que uma história pode trazer nas camadas circulares as questões culturais e sociais complexas da Índia contemporânea, sem que isso seja o cerne no filme; veio mostrar que não é preciso pesar na mão do melodrama pra deixar claro o drama por que passam as três enfermeiras protagonistas; veio dizer que apesar dos dramas particulares (e, convenhamos, universais), há poesia, música, dança e empatia.

E há luz. Apesar de ser um filme mais escuro, noturno, com luzes de neon. Apesar do caos urbano, há o acolhimento do mar, o silêncio da praia pra enxergar novas possibilidades de seguir em frente.

Uma poesia da Índia realista através da trajetória de personagens que acordam, trabalham, cuidam da casa, se relacionam, moram, ficam alegres e ficam tristes, vivem um dia após o outro. Como todos nós. Envolvidas com sua cultura nacional que, embora particular, nos representam enquanto mulheres, profissionais, amigas.

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