TODAS AS ESTRADAS DE TERRA TÊM GOSTO DE SAL (All Dirty Roads Taste of Salt)
Opinião
TODAS AS ESTRADAS DE TERRA TÊM GOSTO DE SAL já chama atenção na largada. Que tipo de título é esse? Mesmo que a gente não saiba que se refere ao hábito de comer sujeira encontrada na lama das ruas de terra no sul dos Estados Unidos, principalmente pela população pobre afroamericana, algo já nos provoca. Já nos diz que cada gesto, detalhe, luz e sombra, por mais trivial, vai nos trazer à tona emoção.
E traz. Não embarque nesta estrada com expectativa de assistir ao amadurecimento de Mackenzie de uma maneira tradicional. Embarque sabendo que isso não foi a linguagem escolhida pela diretora Raven Jackson, neste que é seu longa de estreia. Ela escolhe subverter a lógica da cronologia, dos diálogos, das explicações, dos personagens que representam o bem e o mal. Mackenzie vive sua plenitude na história e nós, do lado de cá, sentimos a intensidade das suas experiências, seja com a mãe ainda criança, com sua irmã e grande amiga no decorrer da vida, seja no despertar do amor e na dor. Aliás, meu coração se partiu junto com Mackenzie (quando você vir, saberá do que estou falando).
Veja. É um convite a um caminhar sem o excesso de recursos com que estamos acostumados. Poucas palavras, pouquíssimas. E uma montagem que me sugeriu um mosaico. O que faz sentido. Cada vez mais sinto que somos mosaicos, ou melhor ainda, uma colcha de retalhos composta das experiências vividas, boas e ruins, costurados com as lembranças que conseguimos e escolhemos guardar desta vida.
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