THE HISTORY OF SOUND

Opinião
O cilindro fonográfico foi o primeiro meio comercial de gravação e reprodução de sons e é ele o grande elo de THE HISTORY OF SOUND. Atravessa a história mesmo e faz esse registro através da trajetória de David e Lionel, que se conhecem em Boston, em plena Primeira Guerra mundial, unidos pela música.
Isso porque Lionel (Paul Mescal) sai do Kentucky pra ingressar no Boston Music Conservatory, onde conhece o compositor Davia (Josh O’Connor). O músico vai pra guerra e quando retorna parte para uma road trip a pé pelo Maine coletando folk music para montar um acervo para futuras gerações. O registro dos sons no cilindro de cera permanece pra contar a história também dos personagens, marcados pelo amor construído.
Mas o foco do diretor Oliver Hermanus não está na repressão, e sim no amor entre os personagens e as diferentes pessoas que cruzaram suas vidas. “Não pretende definir a masculinidade”, diz Paul Mescal em coletiva em Cannes. “Pelo contrário, é um filme sobre subjetividade, sobre mostrar-se vulnerável.” Verdade, porque fala de memória, do som que é gatilho para recuperar lembranças e fragmentos; de sons que têm textura, sabor e que são capazes de respaldar não só o sentimento que vemos na tela através do personagem, mas de despertar no espectador também a emoção genuína de pessoas comuns que têm nas lembranças sonoras também o registro das suas escolhas — e do que foi possível fazer.
THE HISTORY OF SOUND tem um toque de road movie, porque existe realmente uma viagem interior que se instala nos personagens que vão se movimentando. Movimentam-se internamente através de sons. Tem gente em Cannes que comparou o filme com O Segredo de Brokeback Mountain, mas não é sobre opressão e preconceito; está mais para First Cow – A Primeira Vaca da América, da diretora Kelly Reichardt (que também tem filme na competição em Cannes). A viagem pelo Maine dialoga com o processo de autoconhecimento do road movie americano e é sobre os sons interiores que estamos falando aqui.
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