NO ADAMANT – SUR L’ADAMANT

Opinião
Se você estiver em Paris, passeando pelo Senna, repare nas estruturas flutuantes que estão ali na margem. Há restaurantes, bares e esta, toda de madeira, também parece ser. A cena que abre SUR L’ADAMANT sugere algo assim, mas à medida que as janelas basculantes vão se abrindo, percebemos que ali, no coração de Paris, este lugar abriga algo diferente.
Parte da estrutura pública psiquiátrica da cidade, Adamant é aberto para acolher qualquer paciente psiquiátrico que deseja participar de uma das atividades, que deseja conversar, ou simplesmente passar ali uma tarde. Normalmente os ambientes psiquiátricos são sombrios, construídos longe do alcance das pessoas, escondidos. A ideia aqui é trazer este panorama da saúde mental para o âmbito da “normalidade”, no centro da cidade, num local privilegiado, desmistificando este paciente que sofre com doenças mentais. “Considerar a loucura dentro do contexto do coração de Paris a coloca na perspectiva normal da sociedade”, diz o diretor Nicolas Philibert. “O filme se constrói na relação com os personagens, tento fazer um cinema humano que dê voz àquelas pessoas executando funções normais como cozinhar, cantar, conversar, pintar”, completa.
De fato, Philibert filma com honestidade, deixando as pessoas se colocarem conscientemente. Seria mais fácil — e mais comum — filmar pacientes psiquiátricos em surto ou dar o diagnóstico dos personagens, já que este panorama naturalmente os afasta do convívio da sociedade e é o que as pessoas esperam. Mas tentativa de quebrar o estigma funciona e emociona. É como colocar a loucura como parte integrante da sociedade. Claro que projetos assim, que ocupam lugar de forte apelo comercial, sofrem pressão da sociedade e de quem gostaria de fazer daquilo um restaurante rentável. “Adamant é um local de resistência, e seguimos humanizando a saúde que precisa tanto deste olhar.”
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