SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA

Cartaz do filme SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA

Opinião

Manoel de Oliveira tem, nada mais, nada menos que 102 anos. Além da longevidade em si e da disposição de continuar criando, o diretor mostrou que tem uma aguçada capacidade de adaptar o contemporâneo ao antigo, de retratar os costumes do final do século 19 em uma linguagem visual atual, de falar dos costumes e relacionamentos de outros tempos sem parecer piegas ou antiquado. Mostrou que tem uma cabeça moderna, afinal de contas!

Isso porque sua adaptação do conto de Eça de Queiroz é curiosa e bem humorada. Eu não conhecia a história, muito menos esperava por esse final. Enquanto Macário (Ricardo Trêpa) conta sua história a uma moça durante uma viagem de trem e justifica sua tristeza, em flashback conhecemos o que realmente aconteceu. Trabalhando em Lisboa na loja do tio, Macário se apaixona por Luísa, a ‘rapariga loura’ que aparece na janela em frente. Ou melhor, apaixona-se por sua imagem. Sem conhecê-la, pede sua mão em casamento e resolve trabalhar para guardar dinheiro e se casar. Singular, a rapariga…

Interessante a construção de época, do vestuário ao mobiliário, da linguagem aos costumes. Mas mais interessante que isso é a introdução de alguns detalhes do mundo atual numa realidade de 130 anos atrás. Macário usa computador, viaja em trens modernos, ao mesmo tempo em que precisa pedir ao tio autorização para casar e é expulso de casa por não obedecer.  Mas nada disso parece fora do seu lugar, tamanha a sutileza. E para quem está familiarizado com Portugal, o panorama do Rocio e as tomadas da cidade são um convite à vida lisboeta.

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