SÍNDROME DA APATIA – QUIET LIFE

Opinião
Não se engane ao achar que Quiet Life, do título original, sugere um silêncio tranquilo, calmo. Por quiet, entenda coma; por life, entenda sobrevida. Assim se sentem crianças refugiadas na Suécia. À espera da permissão definitiva do asilo que sua família busca, são assoladas pela tristeza e preocupação extremas. A família espera uma definição das autoridades de imigração e, nesse meio tempo, as crianças sucumbem, entram em coma, desligam-se do mundo que é regido pelo estresse da espera e da indefinição.
SÍNDROME DA APATIA é baseado em caso real — e são muitos. Um mecanismo neurológico que faz com que seu corpo e mente se desliguem como forma de proteção. É também conhecida como Síndrome da Resignação e é possível acompanhar um caso real no curta documental A Vida em Mim, na Netflix.
Aqui é ficção, mas filmado com crueza e objetividade impressionantes. Sergei é russo, precisou sair do país porque estava sendo ameaçado de morte. Foge pra Suécia, onde aguarda a análise do seu pedido de asilo. Enquanto isso, vida que segue, mas não sem tensão permanente. Sua esposa e as filhas vivem sob o estresse da insegurança, que planta um trauma irreparável. As imagens são frias, os cenários impessoais. A ausência de algo acolhedor reforça o protocolar e a objetividade que toma conta da vida de pessoas desumanizadas.
Alexandros Avranas é também diretor do impressionante Miss Violence, que também fala do comportamento infantil em outro contexto, mas dentro dessa lógica da absorção, por parte dos filhos, das dinâmicas familiares. Para o bem e para o mal. A forma é parecida: seca e sem rodeios; os silêncios são igualmente assustadores. Causa um impacto tão forte que duvido que alguém saia ileso.
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