SEGREDOS EM FAMÍLIA – ALGUNAS BESTIAS

Cartaz do filme SEGREDOS EM FAMÍLIA – ALGUNAS BESTIAS

Opinião

Comecemos pelo título original Algunas Bestias, porque dizer que se trata de “segredos em família” é chover no molhado. Segredos, todas têm. O que esta família chilena experimenta nos dias em que passou isolada em uma ilha é algo que traz à tona o pior de cada um — o lado sombra, bestial que foge do controle.

Alejandro e Ana são casados e têm dois filhos. Resolvem passar um fim de semana na casa da família em uma ilha remota, que há tempos ninguém frequenta. Convidam os pais de Ana, Dolores e Antonio (os excelentes atores Paulina García e Alfredo Castro, respectivamente), que não morrem de amores pelo genro, diga-se de passagem. Quem os leva de barco pra casa na ilha é Nicolas, o caseiro, que num determinado momento some do mapa e os abandona na ilha, sem possiblidade de voltar pra terra firme. Estamos no sul do Chile, o vento sopra frio, o tempo é nublado, chove. Tudo contribui pra construir uma atmosfera de estresse e tensão — é exatamente isso que vai crescendo entre Alejandro e os sogros, quando ele e Ana contam que querem transformar aquele lugar em um hotel e precisam de dinheiro.

O isolamento traz à tona o lado mais grotesco de cada um deles, a sua mais obscura faceta, a mais dissimulada, mais cínica. Cheia de abusos de todos os lados, as relações escancaram seu lado vulnerável e capenga. Mas não só isso: revela a falsidade da construção dos relacionamentos e o quanto são balizadas pela imagem social que eles produzem. Porque intimamente, não resta nada além de frustração e desgosto. Além de barbaridades que, de tão recorrente, podem até soar banais. Mas nunca, nunca aceitáveis. Forte, até indigesto em algumas cenas, fala do quanto a conviver pode trazer à tona o que existe de mais bestial e animalesco nesta família de relações doentias.

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