RUA DO PESCADOR Nº6
Opinião
Não tem cor, mas tem cheiro e muitas sensações. Bárbara Paz traduz seu documentário RUA DO PESCADOR, Nº 6 sem referências concretas, mas com elementos que deixam impressos o que foi acompanhar os gaúchos passando pela pior inundação que deixo o Estado debaixo d’água em 2024. Elementos que estão presentes nas suas escolhas na hora de pensar como contar essa história “sem recorrer ao melodrama”, mas trazendo à tona, literalmente, a tragédia que se instalou, conta ela ao apresentar o filme no 3º Bonito CineSur, festival sul-americano de Bonito (MS).
Bárbara Paz traz à tona os sentimentos dos habitantes da comunidade da Ilha da Pintada, em Porto Alegre, profundamente afetada pelas enchentes. O formato do documentário também é protagonista: ao invés de colher depoimentos, dar números e índices, a diretora recorre à observação, à captação das imagens que falam por si só e à montagem delas de modo que pudessem ser ao mesmo tempo particulares e universais. “Do mesmo jeito que escolho fazer um plano sequência de 8 minutos de um cachorro tentando subir no telhado de uma casa pra se salvar, escolho deixar só o áudio de personagens junto com os créditos”, diz ela. O animal, enquanto (sobre)vivente da tragédia lutando até não poder mais; a voz que prescinde de imagens no momento em que o espectador normalmente já saiu da sala de cinema. RUA DO PESCADOR, Nº 6 também é um chamado nesse sentido: venha, assista, escute, saia do senso comum e posicione-se diferentemente.
“Acho que não sei fazer filme diferente disso”, reflete ela quando pergunta sobre suas escolhas ao não ser convencional ao contar suas histórias. “Não queria imagens jornalísticas, porque isso já temos de monte nas redes sociais e na mídia; fiz imagens e pensei numa montagem que mostrassem a dimensão da tragédia para todos nós.” É uma maneira poética de falar daquilo que é palpável e visível. Do lixo “que não é lixo, mas memória” (lindo isso!), da infância que é o futuro, do trauma, das perdas, da esperança e da solidariedade.



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