QUEBRANDO O TABU

Opinião
“Questionar a lógica da guerra às drogas não é fazer apologia, mas provocar a mudança de eixo da guerra para a paz.”
– Fernando Grostein, cineasta
“Este não é um filme de tese, é um filme de debate; não é tempo de tomar partido, é tempo de se informar.”
– FHC
Um documentário sobre drogas poderia trazer no título algo mais impactante, com palavras fortes como tráfico, armas, contrabando, ilegalidade, morte, violência, crime organizado. Afinal, pelas informações que recebemos todos os dias, está tudo intimamente relacionado. Mas não. A meu ver, muito sabiamente o título tirou o tema do linguajar militar e o transferiu para um campo comportamental, civil, familiar, educativo. Deu ao título Quebrando o Tabu um significado totalmente condizente com a mensagem que pretende passar: de que não é mais possível combater as drogas, o tráfico e a dependência com ações de guerra; que é preciso mudar a maneira de pensar o problema, quebrar o tabu que ronda o assunto e trazer a questão para discussão na sociedade civil. Ponto. Não impõe solução mágica, nem receita para resolver a questão, mas sugere reflexão, análise e aprendizado com experiências feitas em outros países.
Segundo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presente na coletiva de imprensa após a exibição do filme, não se trata de um discurso ideológico, político ou moralista. Trata-se da abertura de um debate na sociedade civil, que já percebeu por experiência própria que o combate militar às drogas não funciona. Não desta maneira com que vem sendo feita desde os anos 70, seguindo a trilha da tolerância zero norte-americana. É só a gente olhar em que situação estão as grandes cidades do Brasil. E mundo afora. Este documentário vai além da fronteira brasileira para aprender com experiências em países como Portugal, Holanda e Suíça, qual o enfoque que tem sido dado para tentar mudar a situação do dependente, do tráfico e do fortíssimo impacto e dano que eles causam na sociedade.
Depoimentos de pessoas influentes e formadoras de opinião como Bill Clinton, Jimmy Carter, Paulo Coelho, Dráuzio Varella referendam a necessidade de mudança de comportamento da sociedade em relação ao dependente para que ele não seja jogado na cadeia, mas seja devidamente tratado para ter chance de voltar à vida em família e em sociedade. Se funciona, descriminalizar o uso da maconha, fazendo com que o dependente seja tratado como paciente, e não como criminoso? Em alguns países, os índices de overdose, criminalidade, casos de AIDS diminuíram. É claro que o estado precisa fazer a sua parte e dar condições para que essas pessoas se recuperem – o que no Brasil ainda está longe de acontecer – e que o processo é extremamente complexo. Mas é preciso refletir sobre o assunto e Quebrando o Tabu quer mostrar justamente isso. Achei interessante quando Grostein falou sobre a dificuldade de conseguir partrocionadores que quisessem vincular sua marca ao tema das drogas. Só conseguiu quando já tinha algumas partes filmadas e pode exemplificar o teor da proposta. Como se vê, são muitos os tabus a serem quebrados para que se possa abordar o assunto abertamente e de forma esclarecedora.
Além de muito bem dirigido e de contar com escolhas certeiras para dar os depoimentos, o argumento apresentado é muito pertinente e, a meu ver, não é impositivo. Aliás, essa foi a posição de toda a equipe da produção do filme durante a coletiva. A ideia é somar esforços, inserir o assunto nas escolas, dentro de casa, educar para diminuir os riscos e perigos das drogas. É colocar essa nova abordagem na pauta do dia. Pelo teor e qualidade do documentário, acho que vai conseguir gerar boas e interessantes discussões.
Estreia dia 03 de junho nos cinemas.