PARAÍSOS ARTIFICIAIS
Opinião
Há tempos me pergunto o que são essas festas raves, em que as pessoas pulam alucinadas sem parar, durante dias e noites inteiras. Claro, movidas ao combustível da moda – que, sinceramente, nem sei qual é o grande protagonista do momento. Divertem-se à sua maneira, como outras gerações também se divertiam, se embriagavam, se drogavam. Só muda o formato.
Mesmo assim – e agora faço, sim, um comentário conservador, ou “careta”, se preferir – me pergunto que prazer tem uma festa dessas. E mais: como é possível levar uma vida emocionalmente equilibrada e construtiva, com alucinógenos tão pesados. Como é possível fazer escolhas sensatas, trilhar um caminho tendo como base prazeres tão artificiais e passageiros?
O título Paraísos Artificiais diz tudo. Lugares lindos, gente bonita, educada e bem formada, de boa família, com possibilidades e oportunidades. E isso é o que mais impressiona, porque é real. E próximo. O retrato do jovem optando pelo caminho do prazer imediatista, do dinheiro fácil gerado pela lei da oferta e da procura é algo que não sai de moda.
Paraísos Artificiais gira em torno da vida de dois personagens. Nando (Luca Bianchi) é um rapaz educado em boas escolas, com família unida e comprometida, que se deixa seduzir pelo prazer das drogas e do dinheiro rápido; Érika (Nathalia Dill) é uma DJ talentosa e bonita, que se aventura com a namorada Lara (Lívia de Bueno) em um jogo perigoso de experimentação de novas drogas e muito sexo. O que chamaram de “viagem ao autoconhecimento” acaba transformando em perigo de morte. Física, emocional, intelectual.
Além de bonito plasticamente – tem inclusive uma preocupação interessante em passar para o espectador a sensação da batida eletrônica, das luzes, da alucinação – toca nesse ponto, sempre em pauta, do momento da virada, da decisão de virar adulto, assumir responsabilidades – sem que, para isso, a vida precise ser chata. Mas ela prescinde da droga como artifício para a realização pessoal. Isso é fato. Daí a minha indagação do começo deste comentário. Paraísos Artificiais não faz apologia às drogas, nem é moralista – o tom de drama romântico, embora previsível, compõe o todo para contar uma boa história e deixar um recado.
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