OS SAPOS
Opinião
Mais do que fazer uma analogia entre o sapo, o animal que os personagens encontram no banheiro da casa na montanha, e os “sapos” que nós mulheres engolimos nesta vida nos relacionamentos tóxicos, a história que Renata Mizrahi e Clara Linhart contam é sobre a dificuldade (extrema) de quebrar padrões de comportamento. E, por padrões, entende-se: não dos homens, mas das próprias mulheres que mesmo identificando o sofrimento, o abuso e a manipulação, paralisam. E ficar paralisada diante da relação abusiva é comum demais. Prova o quanto é difícil se livrar de uma dependência. Isso, dependência.
Explico: Paula é amiga de escola de Marcelo, mas não se veem há anos. Um dia, Marcelo convida os antigos colegas pra passar o fim de semana na casa na montanha que ele aluga com sua namorada, Luciana. Acontece que Marcelo cancela o convite, mas esquece de avisar Paula — que aparece por lá, acaba invadindo a privacidade dos dois e os meandros da relação começam a vir à tona. Não só de Marcelo e Luciana, mas também de outro casal que também tem casa na região. Renata e Clara fazem um filme singelo, mas cheio de camadas tão básicas quanto sutis, subliminares, maquiadas de excesso de afeto e zelo.
À primeira vista, para olhos mais viciados (e acomodados), tudo não passa de lavagem de roupa suja absolutamente normal na relação a dois que vai sempre, afinal de contas, se adaptando. A olhos atentos, num corpo que já experimentou na pele uma relação tóxica (quem nunca?), estamos diante de mulheres que não conseguem sair do brejo. Um brejo cheio de sapos, em que vão se afundando a olhos vistos. Mas, antes ali, num ambiente “confortável”, do que no desconhecido.
Aliás, OS SAPOS tem isso de interessante: dialoga com a realidade das relações afetivas machistas, reforçadas pelas próprias mulheres, tamanha a força dos padrões de relacionamento, tamanho o medo de virar a mesa — apesar de serem capazes, muitas vezes, de identificar a violência. É preciso coragem pra pedir ajuda e tirar o sapo do banheiro. No entanto, é muito possível, necessário e libertador.
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