O SUCESSOR – Le successeur
Opinião
15º Festival Varilux de Cinema Francês
Já de cara Ellias Barnès parece ser um sujeito reservado, ou melhor, alguém que se expõe por ser um estilista famoso, mas mantém sua vida privada selada. Difícil ler o Ellias, mas na primeira cena de O SUCESSOR, em que assistimos ao desfile da grife de alta costura francesa, a intuição não falha. A passarela em espiral que Ellias percorre é um prenúncio de que há um labirinto à vista.
Foi proposital. O diretor Xavier Legrand, também do ótimo Custódia, escolhe essa simbologia não por acaso. É pra deixar claro que será difícil encontrar a saída. O que acontece em seguida é que o pai de Ellias morre em Quebec e ele tem que voar para o Canadá para resolver pendências. Embora acabe de ser indicado como diretor-artístico da marca, pega o avião e o caminho é sem volta.
Isso porque vamos acompanhar Ellias nos preparativos com enterro e velório, arrumação da casa, venda de objetos, encontro com vizinhos do pai. Afastado do pai há tempos, percebemos que existe um poço de ressentimento e questões mal resolvidas entre eles. Um encontro com um amigo querido do pai muda tudo e entramos, junto com Ellias, num espiral de acontecimentos um tanto questionáveis, mas que fazem sentido se entramos mais a fundo na psique do personagem. “É um filme sobre patriarcado”, diz Legrand que esteve no Brasil quando o filme foi apresentado no Festival Varilux. “Sobre o sistema terrorista que oprime mulheres e crianças, mas também os homens, os filhos que herdam esta cultura de dominação e superioridade.”
O SUCESSOR é o cara que herda o patrimônio, mas também é aquele que herda o legado deixado pela pessoa. Barnès não tem afinidade com os pertences do pai, mas se vê preso. É um thriller, mas é principalmente uma alegoria das armadilhas produzidas pelas heranças psicológicas e sentimentais — e das feridas que se formam. Legrand reserva para o final as revelações que transformam o labirinto de emoções em um verdadeiro refúgio de onde Ellias nunca vai querer sair.
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